Faltou um detalhe no post sobre a tentativa da Microsoft de vender um console (+jogos) que só funcionam online - o que qualquer usuário de internet no Brasil ou mesmo fora daqui tá careca de saber: MUITA COISA NÃO FUNCIONA NESTA PORRA DE MUNDO ONLINE. Vende-se, ou tenta-se vender, um mundo sempre conectado, na nuvem, perfeitinho e cheio de recursos, mas pra quem tá aqui na terra a coisa não funciona bem assim, seja pela qualidade da internet, seja pelas condições ou falta delas que as empresas disponibilizam. É um mundo virtual literalmente virtual, já que na prática funciona só na base da manivela e motor a vapor (mesmo com internet rápida). O que temos é serviços LIVE que não conseguem ficar LIVE e senhas roubadas da SONY com dados de créditos de milhões de usuários. E todo mundo dessas empresas - e parte dos que cobrem esse mundo - finge que são só acidentes, mesmo que aconteçam o tempo todo.
Um exemplo simples, ainda dessa geração de consoles. Aproveitando um preço não tão extorsivo e a possibilidade de trocar jogos usados pra abater no preço, fiz o que nunca tinha feito, comprei um jogo no lançamento. Como só gosto de jogos de horror, The Last of Us parece ser, pelo que tão dizendo, dos melhores de todas as gerações de consoles. Digo parece pois comprei na hora do almoço e até agora, 18h, não pude testar. Assim que coloco no PS3 pede pra atualizar pra versão 1.01, mesmo sendo o cacete dum LANÇAMENTO, já tem que corrigir as merdasda produtora do jogo atualizar, Ok. Porém, não dá, não atualiza e cai. Sempre. E é um arquivo de 44 megas, o que na minha internet deveria baixar em poucos segundos, contudo, neca. Mais de dez tentativas depois resolvi ligar pro 4003 (pagando, portanto) que tá no folheto (bem vagabundinho, diga-se) que vem com a caixa do jogo. A gravação diz que tá todo mundo ocupado, ligue depois, ou, no popular, foda-se você.
Sim, sei que é uma reclamação bem no estilo classe média sofre. Não tô desesperado, não penso em suicídio e sei que o mundo não vai acabar por isso, que tem muita gente sem onde morar e passando fome, a Dilma tem mais o que fazer, mas me incomoda esse mundinho que cobre tecnologia e que pouco questiona a propaganda das grandes empresas, que aceita tudo de boa, como se fosse como dizem, e, na real, tá muito longe de ser. As conferências das empresas de tecnologia, desde o finado Steve Jobs, são uma mistura do que tem de pior em eventos bregas com autoajuda empresarial vagabunda, tem um monte de executivos no palco fazendo pose e falando clichés de propaganda enquanto na plateia o fã-clube jornalistas aplaudem alucinadamente ao invés de questionar a coisa toda (o famoso e quase onipresente "viajou a convite da empresa tal" que aparece no fim da press release reportagem). E na hora de jogar, videogame original, jogo original, tudo caro, internet rápida conectada - e a porra não funciona. Puta saudade da pirataria.
2- Aparelho repressivo cujo único preparo que pode ser classificado como eficiente é no ataque a população (pra comparar, homicídios resolvidos abaixo dos 5%, pois pra resolver crime é preciso inteligência e bons equipamentos). Um aparelho desenvolvido e aprimorado ao longo de séculos de escravidão e décadas de ditadura onde parte da população não precisava ser tratada como gente;
3- Grandes empreiteiras dominando a agenda política do país, tanto no PT quanto no PSDB, PMDB ou qualquer partido de alguma importância, resultando na submissão de 200 milhões de pessoas aos interesses de uma dúzia de empreiteiros;
4- Afastamento quase total de um partido criado nas manifestações de contestação que, agora no poder, prefere aderir aos burocratas sem nenhuma sensibilidade social;
5-Jornalistas já completamente viciados em falar com a voz dos donos de tudo, esquecidos de existência um povo real, com suas necessidades muito mais urgentes do que as fofocas que aparecem nas capas de jornais e revistas;
7-Inexistência de uma política nacional, estadual e municipal de TRANSPORTE PÚBLICO, que deveria ser subsidiado pelo poder público às custas de IPTU nas chamadas áreas "nobres", IPVA pra quem tem mais de um veículo e impostos sobre grandes fortunas (parado há décadas no Congresso);
8- Eficiência da economia ainda medida na venda de veículos, como se o calendário mostrasse um ano do início do século XX, provocando o trânsito caótico, poluição, acidentes fatais em grande número, endividamento das famílias em carnês de 70-90 prestações...;
9- Copa do Mundo e Olimpíada num país com graves problemas sociais (e eventos que nunca, na verdade, nasceram da vontade popular, mas um misto de interesses de políticos corruptos, empreiteiras corruptas, Rede Globo e gente tonta que ri à toa). Trabalhadores que têm que lutar por cada centavo de aumento no salário (exceto políticos e judiciário que podem se dar aumentos quando querem) agora com a Copa das Confederações podem ver estádios que custaram bilhões gastos pelo mesmo poder público que lhes negam aumento alegando falta de recursos. Além disso as imagens mostram um bando de endinheirados "curtindo a festa" dentro dos estádio pagos com o dinheiro da população mais humilde - afastada a força dos jogos.
10- Por último, não menos importante, jovens que querem fazer política com P, não aquela coisa cada vez mais inócua (para as reivindicações populares) dos partidos tradicionais;
Coloque tudo isso no Liquidificador, ligue e
Temos Movimento do Passe Livre sim senhor. E a grande mídia não faz ideia do que pensa esse povo - até pela opção de só ouvir a voz dos donos. O MPL tem discussões públicas sobre a Tarifa Zero desde sempre, mas prum jornalista perder tempo lendo e estudando pautas da população é pedir muita coisa, melhor falar merda e depois ter que voltar atrás. Espero que a moça da primeira foto, jornalista da Folha, e seus colegas todos, pensem duas vezes antes de darem sua aprovação pras ações da polícia contra os movimentos sociais (índios, MST, MAB, Sem Teto, MPL), que sempre são tratados à bala com apoio entusiasmado da imprensa. E bala disparada, de borracha ou não, é sempre um tiro.
A Microsoft vem inovando na única área que consegue inovar: formas de assaltar o idiota masoquista que compra seus produtos. O imbecil que pagar U$ 500 no seu novo videogame (lá fora, aqui vai ser o dobro disso, cerca de U$ 1000), o Xbox One, vai levar pra casa, mas só pode usar quando e como a empresa deixar, se não deixar não usa e pronto. Se não ligar na internet não funciona, mesmo podendo funcionar perfeitamente, não vai, então você não pode escolher onde vai jogar o SEU (da Microsoft) videogame, tem que ser onde tem internet (e boa), logado no Live do Bill Gates. Matar o tempo jogando naqueles dias que a NET não tiver sinal, já era, a Tia Microsoft não deixa.
Pagando U$ 50-70 num jogo, ele também não vai ser seu, a produtora do jogo e a Microsoft vão decidir como e se você vai poder jogar. Além do que agora (nesta geração já é assim, na próxima vai ser pior) você paga o preço integral do jogo e a empresa lança só metade dele, depois tem que comprar conteúdos extras, pagando mais, e mais, e mais.... Acabou o jogo e quer vender ou trocar? Nopes, não pode, tem que pagar propina (legalizada, acredite) pra quebrar o registro de usuário (que é único pra cada jogo) nos serviços de rede da Microsoft e aumentar a fortuna do Bill Gates. Não faz sentido alguém optar por isso a menos que o cidadão seja muito rico e muito estúpido, numa combinação dos dois, pois só rico ou só estúpido não resolve e o cara não compra. Não foi por nada que, no lançamento da caixa, ficaram falando do designe da coisa, que combina com tudo na sala, que dá pra ver filmes e séries, o facebook e blablabla, então é uma espécie de objeto decorativo caro e sofisticado pra botar perto da TV - pra VER TV E NAVEGAR NA INTERNET, o que convenhamos muitas TVs já fazem sem a bendita caixa. Jogar mesmo, aí tem que pedir pra Microsoft se pode ou não, se o Live tá ok e tal, aí sim, ops caiu a net, pode desligar esse troço inútil.
Eu que gosto somente de jogo de terror, quietinho na madrugada e sozinho (offline), obviamente tô fora, é um videogame (e uma geração, ao menos pra Microsoft) pra quem não quer jogar, mas ficar resolvendo as carências online com um bando de malucos, plugado o tempo todo, botando tudo nos faces da vida. Imersão zero. Depois do PS1, 2 e 3 (e Atari, mas aí é outra conversa), tava até disposto a ver como funciona o tal Xbox, mas com esse capitalismo estranho da Microsoft onde você paga caro e não leva nada, eu passo. Vou fazer o de sempre, esperar o videogame da Sony custar metade do preço do lançamento numa dessas versões slim e ficar na mesma. Ao menos nas promessas, quem comprar o videogame da Sony pode escolher quando e como jogar, e o que fazer com seu jogos usados depois - se vier algo diferente disso, tchau Sony também. Mas nessa moda de ter que ficar tudo online, com multiplayer, já tão liquidando mesmo o survival horror. Tudo bem, vou ali numa loja perto de casa pra trocar alguns jogos que já terminei pelo The Last of Us, se é que chegou. Tão dizendo que vale a pena - e pode ser minha última chance de jogar um jogo de terror sem ninguém pentelhando, imagina você ali tentando ouvir de onde vem o zumbi, tudo escuro, aquela tensão... e aqueles barulhinhos chatos de alguém te chamando nos skypes da vida. Não vai rolar. Ficar velho e jogar videogame é foda.
PS - A (ex)big M arregô. Depois dum executivão da Microsoft fazer pouco dos que reclamavam das restrições ao uso do Xbox One, dizendo "aqueles que querem um videogame offline que comprem o Xbox anterior (o 360)", parece que ele mudou de ideia, talvez pelos números da pré-venda dos novos consoles, onde o gênio descobriu que não tavam comprando o Xbox 360 e sim o Playstation 4, da rival Sony. E pagam fortunas pra esses executivos fazerem merda deste tamanho. Parece que voltaram atrás nas medidas de restrição ao uso do console e dos jogos usados.
A Dilma segue o mesmo rumo do presidente americano Barack Obama, virando as costas pra quem a elegeu e, pateticamente, fazendo de tudo pra conquistar o eleitor classe-média reaça que jamais vai votar nela. O resultado é bastante óbvio, raiva nos dois pólos de eleitores. Até pela debilidade da oposição, até aqui não ameaça muito a reeleição, mas continuando essa construção identitária ao contrário, a Dilma vai acabar sem ter onde se encostar até 2014.
Essa foto com o presidente da CBF, o Marin, é um bom exemplo. Tem muitas teorias do pragmatismo, da realpolitik, que tratam da necessidade do governante compor com adversários históricos, nenhuma dessas justifica uma jovem presa e torturada pela ditadura militar posar, anos depois, sorridente ao lado de um notório apoiador da ditadura. É caráter mesmo. E esse é o tipo de coisa que, se a presidenta não entende, não vai adiantar explicar. Talvez a vaia gigante recebida no Mané Garrincha pelo menos levante um sinal de PARE na cabeça dela, um aviso pra mudar de direção antes do desastre, mas acho que não.
PS - Tão falando que a Dilma ficou puta com as fotos, que não queria, foi pega de surpresa... Se foi isso é muito pior do que pensei, se um cenário óbvio desses (abertura de evento FIFA e presença de presidentes da república, da FIFA e da CBF) pegou a equipe toda e a presidenta de surpresa, imagina na economia, nos protestos contra a Copa, contra aumento de tarifas de ônibus, etc e etc. Todo dia vai ser uma emoção.
A ombudsman da Folha deve tá de saco cheio de alguns dos ultaneocons da casa, destes que fazem tudo pra aparecer, os tais "polêmicos", que escrevem pros chamados "leitores de Veja" que se espalham pelos diversos veículos neocons da mídia. Parece que o Pondé desta vez resolveu atacar as feministas numa coluna intitulada bonecas de quatro, bem ao estilo neocon, dizendo pras mulheres de que forma elas devem dar e chupar. Acontece que a feminista que motivou a raiva toda do Pondé, a antropóloga Helena Ramirez é, na verdade, um personagem da internet. Não existe. Meio como criticar a psicanálise depois de ver uma peça do Analista de Bagé. Os leitores apontaram o absurdo.
Na resposta a ombudsman, o filósofo disse, mais ou menos, que não importa se a mulher existe ou não, o que vale é falar merda e foda-se. Bom, na pressa de provocar, o "pensador" não se dá ao trabalho de ler ou refletir sobre o que está denunciando - o que é bem estranho pra um filósofo. Tanto faz mesmo. O que vale é ofender. Se o ofendido for um desses grupos que ganham espaço tentando reverter uma situação histórica de opressão, perfeito. Deve dar um montão de pontos na cartela neocon, mais um "páginas amarelas" na revista, um elogio do próximo livro garantido, uma entrevista na Globonews, etc. E o que me espanta, sempre, é que é esse o tipo de intelectual que se acha na posição de chamar todo mundo de idiota.
Depois de começar combatendo Marx e Engels, o filósofo Luiz Felipe Pondé deve mesmo continuar nesse caminho, procurar na internet seus novos adversários intelectuais, como a Luiza, que está no Canadá, a família do "pra nossa alegria", a Nana Gouveia, a Geisy Arruda, um Big Brother desses, o cachorrinho que atende o telefone....Vai render muitas clicadas nos artigos e, de quebra, desobriga o pensador a perder tempo lendo um livro de verdade.
Do Clóvis Rossi, na Folha: "Não há razão para não rotular de terrorismo a criminalidade que aterroriza São Paulo".
Perfeito. Fazendo isso o problema está imediatamente resolvido, como podemos ver facilmente em exemplos de quem fez coisa parecida, no caso o governo dos EUA, que trata o problema das drogas como terrorismo há décadas e já devem ter resolvido isso. Opa, não resolveram, tão na merda e a coisa piora todo ano. Ahh, mas no caso do terrorismo propriamente (ou o que eles entendem como tal) deve ser diferente, prioridade um e dois da política de segurança dos EUA após o 11 de setembro, então a nação mais rica e mais armada do mundo resolveu isso? As recentes bombas em Boston lembram que não. Então o que quer o Rossi? Nada, apenas não tem mais argumentos pra coisa alguma - e sabe que o leitor típico da Folha também não, então dá sempre pra apelar e ir tocando a bola, ninguém lá vai reparar mesmo. Cadê o contracheque?
O cantor Amado Batista comparou a tortura sofrida nas mãos do governo militar como "uma mãe que corrige o filho". Bom, se o cara acha bacana ser corrigido no pau de arara, com muita pancada e choques elétricos, é do gosto dele. Cada um é cada um e eu gostaria de poder facilitar acesso a livros subversivos a qualquer um (foi o "crime" do Amado, pelo depoimento) sem uma mãe pra me espancar até quase a morte, as vezes sem o quase. Mas devo ser meio maluco já que o mundo hoje parece ser dominado pelos reaças zumbis, figuras que andam sem rumo, procurando cérebros pra devorar. Provas? Olhe os comentários no portal Folha logo após a nota do Amado dizendo que curtiu ser torturado como processo corretivo:
Comentário 1) Esse tipo de raciocínio a Comissão da
"Verdade" não contempla, para eles torturado sempre são coitadinhos. Não
gosto das musicas de Amado Batista mas o admiro pela coragem de uma
declaração que cala a boca de muitos esquerdiotas
Não, torturado não é sempre coitadinho. Tenho pena mesmo é dos caras que tinham que ficar noite e dia batendo, batendo, estuprando, dando choques, batendo, batendo e matando os caras que queriam - vejam só - o fim do regime militar que derrubou um presidente legítimo. Ahh, como também não pega bem declarar amor ao cantor brega, convém ressaltar que está somente aprovando uma declaração que cala a boca de muitos esquerdiotas. Como? Não sei bem, acho que a lógica é: Amado Batista gostou de ser torturado, foi uma mãe ensinando o filho, logo, quem não gostou de ser torturado, espancado, estuprado ou morto, é um esquerdiota ressentido. Pronto, argumento lúcido é isso, um pensador brilhante, destes que a direita adora.
Comentário 2) Que briga Amado Batista está comprando com os demais terroristas brasileiros !!!
Lindo esse. Então o Amado era também um terrorista, pois permitiu que pessoas tivessem acesso ao Manifesto Comunista, por exemplo. Que bom conversar sobre um tema tão complexo com pessoas que sabem definir o que é ou não terrorismo assim de pronto: Se eu gosto da causa, pode mandar prender, bater, torturar, estuprar, matar, explodir que tá liberado, é defesa da "liberdade". Se eu não gosto, se é coisa de comunista, é tudo terrorista mesmo e merecem morrer. E isto foi só o que apareceu na página da notícia, tenho medo, muito medo,
eu e Regininha Poltergeist Duarte, do que contém as páginas seguintes de comentários. Como já disse o tal do Danilo Gentili, ele quer que se foda quem foi torturado pela ditadura, nem tinha nascido e não pediu pra ninguém apanhar por ele, portanto, dane-se. Ele pode falar uma coisa dessas (num show) justamente porque pessoas apanharam e morreram, mas essa é uma reflexão muito profunda pro jovem humorista.
PS - Hoje, na Folha, a nota sobre a declaração do Amado Batista precedeu outra notícia de tortura na ditadura, ou educação de mãe pra filho (ou esquerdiotas, no caso) na opinião dos leitores do portal Folha. Era o caso do jornalista Vladimir Herzog, que morreu torturado e não pode aproveitar todo o aprendizado fornecido pelos torturadores, como podemos ver no caso do Amado.
Sim, o Amarilla é o árbitro, o Carlos, mas quem amarelou mesmo foi o meu Corinthians. Não ontem, não aqui, mas lá, em Buenos Aires, quando resolveu fazer compras, passear, curtir as livrarias, os grandes escritores - e abriu mão de jogar futebol no único jogo que realmente importava desde a partida contra o Chelsea, permitindo que o Boca jogasse aqui no Pacaembu bem a vontade, coisa que o Romarinho evitou com seu gol na Bombonera ano passado - e foi naquele lance que o Corinthians ganhou sua primeira Libertadores.
O técnico do Corinthians, Tite, nunca fez coisa que preste antes do atual trabalho. Ano passado foi muito bem, mas as besteiras todas feitas contra o Boca o colocaram no seu tamanho, um técnico médio, como, verdade seja dita, todo técnico brasileiro no momento, coisa fácil de notar observando o Boca de outro Carlos, o Bianchi (que completou 8 vitórias em mata-mata em oito confrontos contra times brasileiros, ainda bem que o cara tava fazendo outra coisa ano passado). O Boca é um time limitado, jogou muito mal no primeiro jogo, mas aqui soube segurar o Corinthians, se impôs como o time que ganha, que está acostumado a ganhar, mesmo com elenco muito pior. Erros do árbitro à parte, o melhor Corinthians da história nunca foi superior ao pior Boca, em dois jogos. Isso resume tudo.
Do outro lado, Tite é um treinador de futebol de hábitos estranhos, um deles é colocar o ex-jogador Douglas em quase todos os jogos importantes, via de regra no lugar do jogador do meio ou do ataque que está melhor em campo. Ontem tirou Danilo, que, se não estava bem, tem como característica, desde o São Paulo, justamente arrumar boas jogadas em jogos decisivos da Libertadores, com gols e passes, mesmo quando não parece bem. Aliás, quase marcou um gol antes de sair. Douglas entrou e fez o que tem feito há três anos, nada. Até a família do Douglas deve ficar espantada quando vê o meia na beira do campo, pronto pra entrar, mas Tite vê alguma lógica nisso.
Com a derrota contra o Tolima, na pre-Libertadores de 2011, Tite deveria sair do comando do clube. Foi mantido, montou um time muito bom, ganhou o Brasileiro, Libertadores e o Mundial de clubes, cultivando a fama de ser um técnico que precisa de tempo pra mostrar o trabalho. Bastante tempo. Os jogos contra o Boca reforçaram essa tese do tempo e isso não é bem uma virtude. Dois anos parece ser o tempo que o técnico leva pra tomar uma decisão importante. Com o gol do Riquelme, aos 30 do primeiro tempo, e a obrigação de fazer 3 gols no Boca, Tite já deveria, imediatamente, botar em campo o Pato e o Jorge Henrique e ir pra tudo ou nada, pra que diabo esperar quinze minutos até o intervalo quando cada minuto conta tudo? Lá na Bombonera, com o time não jogando absolutamente nada, Tite deveria ter mudado já no intervalo, mas preferiu esperar levar o gol pra tirar o único jogador que estava bem (ou menos mal), o Romarinho. E, lógico, depois colocou o Douglas. Nestes jogos de mata-mata, contra um time como o Boca, perder 15 minutos pra tomar uma decisão é quase entregar o jogo. Tite entregou dois.
Claro que dois ou três erros graves do árbitro contam muito num jogo decisivo, mas no momento em que o Corinthians teria que se impôr ao Boca, mostrar que é o novo rei do pedaço na América, que é time grande, não só de paulistinha, lá no jogo de Buenos Aires, não fez nada. Riquelme, antes da primeira partida, com aquele jeito de quem não quer nada e, ao mesmo tempo, meio provocador, quando perguntado sobre a diferença ente um Boca enfraquecido e um Corinthians reforçado em relação a final do ano passado, lembrou que o Boca tem seis títulos, o Corinthians apenas 1. Pois é, por aqui acharam arrogância, não foi. Ao invés do Pato, o Timão tinha que ter contratado o Bianchi. Já passou da hora dos grandes clubes brasileiros deixarem de lado esses contratos malucos, pagando fortunas pra jogadores duvidosos e dar mais atenção ao trabalho de técnicos da América do Sul, que, diferente dos daqui, ainda pensam o futebol. Bom lembrar que é na Argentina que o Pep Guardiola vem estudar e conversar sobre futebol.
PS - Sobre os erros do Amarilla, o melhor comentário que ouvi foi do Flávio Gomes (torcedor da Portuguesa), na rádio ESPN: "pois é corintianos, vocês até hoje não sabiam o que era isto, mas é assim que acontece quando se é prejudicado pela arbitragem". Bom, agora sabemos, e em dobro, ou tríplo.
PS 2 - Jorge Henrique fez muita falta no jogo de ontem, o padre Tite poderia ter esperado essa reta final da Libertadores pra discutir o evangelho com o jogador.
PS 3 - Cássio fez sua parte na história do clube, defendeu aquele chute do Diego Souza, beleza, mas já passou da hora de arrumar um goleiro bom pra posição. Aquele lance na partida de ida onde ele, sem ninguém do Boca por perto, repôs a bola com a mão fora da grande área, arrumando, do nada, uma ótima chance pro Boca marcar, é sintomático de que a camisa 1 do Corinthians é muita coisa pra ele. Tem goleiro que sai do gol pra interceptar as bolas levantadas na sua área, tem goleiro que não sai e fica esperando embaixo da trave. O Cássio optou pelo meio termo, nem sai (bem ou mal) nem fica esperando, ele corre exatamente na direção em que, sabemos todos, ele não irá encontrar a bola, ficando sempre em algum ponto intermediário. Riquelme ontem não decidiu se cruzava ou chutava pro gol, encontrou o Cássio, como sempre, no meio do caminho. A bola não teve dúvida nenhuma.
“Joaquim Barbosa seria meu candidato definitivo à presidência da república e estou certo que ele venceria no primeiro turno” - Roberto DaMatta
Pois é, quem escreveu isto é considerado, por muitos, um dos grandes intelectuais brasileiros de todos os tempos. Gosto de diversos pensadores do campo, digamos, conservador, como Hannah Arendt, Raymond Aron, Norbeto Bobbio... mesmo discordando bastante, aprendo lendo seus textos, sempre. Diz muito, contudo, sobre como as coisas são no conservadorismo brasileiro a profunda incapacidade de diagnósticos lúcidos - e não falo aqui dos colunistas de sempre, da Cantanhêde, do Josias, Jabor, Merval ou qualquer destes, mas falo de quem dispõe de todas as ferramentas pra este diagnóstico, mesmo à direita, como é o caso do Roberto DaMatta, tornado mais um destes ultraneocons, disposto a ser usado e abusado pela grande mídia - recebendo bem, e em dia, claro, como o João Ubaldo ou o Ferreira Gullar. Gente que poderia contribuir muito pro conservadorismo local, dar algo de profundo aos toscos superficiais da grande imprensa, mas têm optado, em conjunto, pelas mesmas abordagens, pela escrita com ódio de classe (ou de partido, ou do Lula) ditando cada palavra, nunca pelo aproveitamento, nos textos ao menos, da vida inteira dedicada à cultura que os tornou conhecidos e respeitados.
Não é uma questão de gostar ou não de Lula, Dilma ou do PT no poder, mas de saber que Lula, Dilma e o PT estão no poder, isto é fato, e muita gente gosta disto, fato, não opinião. Não adianta esses ultracons enfiar a cabeça no buraco, ficar dia e noite no balcão do café society, bebericando seu whisky com soda e trocando "idéias" com gente que pensa exatamente o mesmo sobre tudo (sim, isso serve pra muita gente na esquerda também), mas assusta ver um antropólogo com grandes trabalhos expondo algo assim tão simplório, mesmo do lado conservador.
É desejo legítimo do conservadorismo exaltar Joaquim Barbosa e sua atuação contra o PT no STF, onde, bom lembrar, foi colocado pelo governo do PT, e onde dificilmente estaria se a coalização PSDB/DEM - que ainda luta, no próprio STF, contra as medidas adotadas pelo PT pra inclusão de negros - ainda estivesse no controle do governo federal. Isto não significa nenhum contrato de fidelidade de Barbosa - ou qualquer juiz do Supremo - com o partido que o colocou lá, mas é bom olhar em volta e ver com quem anda e de que lado a torcida organizada pró-Barbosa está na luta de classes, esta mesma luta da qual Barbosa é figura sintomática justamente pela ausência de negros em cargos relevantes. Assim como é perfeitamente legítimo quem contesta os procedimentos todos do Barbosa no Supremo, a falta de cuidado com os procedimentos no julgamento do mensalão (data de suposta conversa ocorrida meses após a morte de um dos intelocutores, por exemplo), a pressa pra atender o calendário político das eleições municipais, a arrogância no trato com colegas, intolerância com idéias e conceitos divergentes, o pagamento pelo STF pra jornalistas o acompanharem em viagens oficiais ....
É, vá lá, legítimo o desejo deste conservadorismo colocá-lo pra "bater" o PT em Brasília numa disputa eleitoral. Outra discussão, no campo não só da ética, mas também dos procedimentos legais envolvendo funcionários do poder judiciário, é se cabe aos juízes do Supremo ter papel tão explícito na política partidária (o que pode ser dito facilmente, a bem da verdade, de Nelson Jobim com o governo do PT e, antes, com o PSDB), beneficiando-se pessoalmente desta atuação. No caso de Barbosa a conta é simples: como presidente do Supremo ele tem o poder de julgar e por na cadeia a liderança do partido do governo, e então, depois do julgamento, poderia se aproveitar e disputar a presidência contra o partido que, como juiz, enfraqueceu decisivamente. Pode isso Arnaldo? Pro conservadorismo "de resultados" daqui, onde vale tudo - inclusive gente que defendeu a ditadura militar de 64 receber com pompa uma cubana pra "defender a liberdade" contra os "totalitários do PT e de Cuba" - coerência no discurso é algo completamente dispensável, o que vale é tirar o PT do poder, ponto.
Mas o que realmente espanta neste desejo disfarçado de análise (coisa que em inglês fica bem melhor com a expressão wishful thinking) do DaMatta é a total falta de contato com o mundo - ou de combinar com os russos - colocada na segunda parte da frase "estou certo que ele venceria no primeiro turno". Não acho, como vejo muitos blogueiros aí dizendo, que a Dilma ganha fácil, mas ignorar, como o DaMatta faz, um partido que vem ganhando eleição após eleição há 10 anos, incluindo Haddad na prefeitura de São Paulo, com expressivo eleitorado, já passa pra mera propaganda pura e simples, ou melhor, uma doença comum às nossas elites: a confusão, deliberada entre a retórica publicitária e a realidade, entre a propaganda de classe e o mundo das pessoas reais. Que um sujeito desprovido de capacidade de reflexão séria, como o Guilherme Fiuza ou alguém da Veja, fale essas coisas pra lamber as botas (sendo bondoso quanto a parte lambida) do chefe, vá lá, agora um pesquisador experiente, acostumado a grandes diagnósticos, confundir desejo de classe média tosca com "estou certo que ele venceria no primeiro turno", é sinal que já passou da hora de ficar só no whiskinho, botar os chinelos e deixar a tarefa dos grandes diagnósticos para pessoas como..., ahhmm, como, ....bom, acho que pra ninguém, não sei.
Só pra lembrar, quando a classe média moralista, grandes empresários e os meios de comunicação adotaram um herói quase desconhecido pra enfrentar a "ameaça vermelha" do PT que despontava, com um Lula que ainda usava uma barba descuidada e uma retórica esquerdista que realmente assustava muita gente, ainda assim, em 1989, Fernando Collor ganhou apertado de Lula no SEGUNDO TURNO, com considerável ajuda das edições amigas da Globo, do "dindo" Roberto Marinho, numa época que o Jornal Nacional ainda importava muito (hoje em dia, a bolinha de papel do Serra já era piada em poucas horas na internet, dando vergonha dos jornalistas e peritos do JN, que tentavam transformar o episódio em um ataque da Al Qaeda petista). Quando outro Fernando, o Cardoso, bateu Lula no primeiro turno, ele era o candidato do governo, do Plano Real, enquanto Lula patinava entre a tradição do PT e a realpolitik que dominaria o partido depois de 1998 - ou seja, FHC estava na posição que hoje está a Dilma, exceto o apoio da grande mídia - que Dilma e o PT jamais terão - que foi, por exemplo, capaz de levar a tranquila eleição de 2010 prum segundo turno contra um inexistente José Serra. Não acho impossível uma vitória de Barbosa contra Dilma, principalmente com a exposição que vem tendo e o apoio previsível dos grandes grupos de mídia a qualquer candidato com maiores chances de bater o PT, mas daí a ter certeza duma vitória fácil contra um partido que está no poder e é muito bem avaliado vão muitas doses de whisky - pouco gelo e menos ainda juízo intelectual
PS - Se é pra ficar com o pensamento de um dos grandes das ciências sociais, na parede da sala onde trabalho na universidade tá escrito isto (e não sei quem pôs ali): o envolvimento da sociologia na "defesa da ordem" foi tão longe que já não põe em jogo as diferenças entre liberais, conservadores e radicais. Todos podem ser cientificamente íntegros, mas todos são, também, instrumentais para algo que transcende e nega a autonomia do pensamento sociológico.
A frase é de Florestan Fernandes, que certamente teria muitas decepções com os rumos do seu PT (partido pelo qual foi eleito deputado constituinte) - e muito provavelmente nem seria mais seu PT, mas tenho certeza que jamais veria Florestan do mesmo lado dos donos de tudo, estes que, desde sempre, trabalham para impedir que pessoas como o Barbosa ocupem cargos importantes - e agora pedem Barbosa no poder apenas pra continuar fazendo isso.
Como fiz 40 esses dias, li com atenção o texto do Michel Laub na Folha sobre isso - ele tá fazendo 40. O texto é muito bom, na forma de aforismos, dos quais lembro de alguns que, não por acaso, acho que compartilho, como: Antecipar duas diversões da velhice: falar sozinho em casa e ser rabugento em público; Sentar cedo (ou nem tanto, no meu caso) em frente ao computador, procrastinar o trabalho até o limite da catatonia; Ser pontual e, portanto, um idiota.
Em alguns, lógico, não me vejo: Não achar que o pessimismo é moralmente superior ao otimismo (eu acho, acho, e acho de novo); Aceitar que entre os defeitos dos amigos podem estar a burrice e a falta de caráter - tento, juro, mas cada vez que abro o facebook e vejo aquele velho conhecido repassando (eles adoram repassar) uma capa da Veja ou algo do tipo "o Feliciano pode ter alguma razão blablabla" continuo, com uma puta vontade de mandar o sujeito praquela que o pariu, mas agora que uma amiga, que realmente usa o facebook, me mostrou como tirar essas pessoas do meu circuito de notícias - e sem mandar ninguém pra lá onde foi parido, fiz uma limpa, sobrou uns 10 (de um total de 39, com 2 1 já na berlinda, só esperando uma escorregada pra ir pro meu limbo).
Um dos aforismos do Laub foi direto ao ponto: Ter um número razoável de parentes e amigos mortos. Resume bem, ter 40 é, pela primeira vez, ter certeza que que você está mais perto daquele lado, da morte, em oposição a aquela sensação de invulnerabilidade típica dos muito jovens. A morte, sua presença, não é mais - ou apenas - acidental, ela vai ficar ali, pertinho, hora ainda guardando uma distância segura, hora se aproximando bastante. Nada que me assuste muito, mas muda sim, em algum sentido, as percepções que até então eram sequer motivo de reflexão.
Aí você põe um terrorzão B (Stake Land) pra assistir e surge uma vovó simpática fugindo de vampiros zumbis (sim, vampiros zumbis, na dúvida entre qual entidade é mais popular hoje em dia, optaram no filme pela mescla num tipo único de criatura, se tiver continuação vão incluir os dragões de Guerra dos Tronos no mix).
Seguindo olhando pra dona ao longo do filme, você começa a descobrir sinais de reconhecimento, no olhar, na boca, no jeito de falar, peraí, humm, não é aquela? Daquele? Sim, é ela mesmo.
A Kelly Mcgillis, famosa no mundo todo pelo filme Top Gun, uma das inúmeras idiotices cometidas pelo Tony Scott. Mas, pelo menos por mim, lembrada mesmo por este filme do Peter Weir
A Testemunha, com o Harrison Ford, e ela, de amish. Não é o caso aqui destes antes/depois dos sites de celebridades, quando colocam a foto do Mel Gibson aos 20 anos no filme Mad Max ao lado de outra foto dele hoje, de preferência uma foto de flagrante de prisão embriagado, pra ficar naquela tolice do olha só, como tá acabado, barangô - parece até, falando em mundo de celebridades, que a Mcgillis saiu do armário recentemente, mas não é esse o ponto, sim ver aquela gata, que ainda ontem aparecia tirando parte da roupa, lentamente, antes do banho, mostrando o suficiente pra deixar tonto o Harrison Ford que espiava pela porta meio aberta - de repente, da noite pro dia (ou 30 anos), virada numa vovozinha.
Mas enfim, o negócio é que com os 40 as coisas mudam de patamar e começamos a ficar mais próximos da vovó Kelly Mcgillis do que da gatona Kelly Mcgillis dos 80 e o tal do cérebro, que normalmente já pega no tranco, demora pra notar esse novo patamar, se é que nota em algum momento. Dia desses uma moça do prédio veio falar algo comigo, simpática e incrivelmente bonita - e olha que estou em Florianópolis - e que, aliás, se parece com a foto acima da Kelly vestida de amish. Quando a moça diz tchau, vai embora, aquele inevitável olhar canalha, meio de canto de olho, notando a ida da moça até onde for possível. E então, aquela voz interior apela à razão, lembra que a moça deve ter uns 24, 25 no máximo, "seu velho babão, acorda, deixa de ser tiozão". Prefiro, contudo, a outra voz interior, a que assobia junto, pelo menos mentalmente, ignorando solenemente a verdade dos fatos, da moça ter só pedido uma informação pro "senhor" que mora no mesmo prédio, e ter sorrido numa simpática condescendência. Ou não?
Manchete de hoje: depois de 17 anos começa o julgamento de acusados da morte de PC Farias.
A ausência completa de algo próximo de justiça na Justiça - em todas as instâncias - ajuda a entender muita coisa por aqui.
PS - Vejo na blogosfera que, ao final de reportagem assinada em O Globo, aparece a frase: a repórter viaja a convite do Supremo. Ou seja, a última instância da Justiça brasileira acha normal pagar pruma jornalista viajar e cobrir um evento. O Globo acha normal aceitar. E eu quero um lugar no hospício.
E tá cheio de picareta publicando livro aí dizendo que o "julgamento do mensalão mudou a história do país", tá bom.
PS2 - O Jânio de Freitas na Folha, comentando a declaração de Joaquim Barbosa (de que três grandes jornais dominam a midia impressa inclinados à direita) disse o seguinte: A "imprensa se inclina para a direita" e o Judiciário se inclina para a
inutilidade social, pois. O que dá no mesmo, como inclinação.
Dessas coincidências da vida, abri a internet numa manhã e vi essa foto do Sebastião Salgado, que mostra o atentado sofrido por Ronald Reagan em 1981. Nem tinha idéia que o Salgado tava por lá. A noite coloquei um seriado que tinha baixado, The Americans. Logo no terceiro (acho) episódio o assunto é justamente o tiro dado em Reagan. Não tava esperando muito da série, mas gostei do que vi até aqui (5 episódios).
O episódio do tiro no presidente dos Estados Unidos foi muito bom, mostrando o frenesi todo dos agentes da KGB operando dentro dos EUA, os lendários agentes do Diretório S (ao menos pra quem lê livros de espionagem), agentes infiltrados por longos períodos, treinados pra parecerem exatamente como os cidadãos do país espionado ("falam inglês melhor que nós", nas palavras de um agente do FBI na série) - e que deram margem ao discurso de caça as bruxas dos Macartismos, o medo inflado do espião que mora ao lado, que trabalha com você, que frequenta sua casa, toma uma cerveja no seu churrasco. E é aí que quero ver onde vai essa série, afinal tem como heróis dois espiões soviéticos e suas missões em território americano, vivendo como uma perfeita família americana, destas de subúrbio (que lá é classe média) com um casal de filhos adolescentes (que não sabem da vida oculta dos pais). Afinal, sabemos todos como termina essa guerra fria, sabemos que os caras da KGB vão perder, capturados, mortos ou, como é provável na série, convertidos ao hamburger com coca. Um dos agentes já mostrou que tá louco pra pular fora, que no fundo gosta dos americanos e seu way of life, enquanto a agente vivida pela Keri Russel, fica puta com o marido (ou colega) e diz que prefere morrer pela União Soviética. Não é muito difícil prever, com o decorrer da série, qual dos dois vai prevalecer, já que, afinal, é uma série feita por e para norte-americanos. Isso dito, até aqui fizeram boas escolhas, com o clima retro dos 80, as rotinas de espionagem e contraespionagem, com seus códigos, sinais, protocolos, coisas normalmente deixadas de lado em séries e filmes ou então simplificados em clichés de tal forma que ser espião infiltrado em um país hostil parece dia de aula na high school (Alias, Chuck, Covert Affairs, Nikita, por exemplo).
No episódio dedicado ao tiro dado em Reagan mostraram a correria do FBI procurando envolvimento da KGB, afinal Reagan tinha endurecido muito o discurso contra o "império do mal", prometendo destruir a União Soviética. Do outro lado, a correria da KGB tentando entender o que tinha acontecido. O foco foi um fato imediatamente após o atentado, a declaração do secretário de estado, Alexander Haig, de que tinha o "controle da Casa Branca". O que isso significava exatamente? Era uma ameaça? Um golpe (já que o vice-presidente era o Bush pai)? A reação soviética - e a proporção desta reação - dependeria do tipo de informação passada pelos agentes do Diretório S.
Mas confesso que outro lado da coisa ficou martelando na minha cabeça. John Hinckley, o cara que tentou matar Reagan, conseguiu - ou quase - sozinho o que poucos comandos militares conseguiriam se tentassem. Hinckley penetrou - veja a foto do Salgado - numa das couraças protetoras mais caras e treinadas do mundo, ferindo gravemente o presidente dos Estados Unidos, dois agentes do serviço-secreto e o secretário de imprensa. E fez tudo isso pra chamar a atenção desta garota:
A jovem atriz Jodie Foster, do filme Taxi Driver, que, saberíamos depois, não daria a mínima pra alguém como o Hinckley, com atentado ou sem atentado.
Pobre PT, tão maltratado pelo tal pig. Ahh se o partido ganhasse finalmente uma eleição presidencial pra mudar essa situação, atacar a imensa concentração da mídia em grandes grupos, que acabam filtrando a informação que chega pra grande parte da população conforme seus interesses (dos donos de tudo). Chegando ao governo federal, o partido poderia colocar em pratica as propostas todas de democratização dos meios de comunicação debatidas anos e anos, definidas nos diversos fóruns do partido.
Pois é, já ganharam a eleição, e faz um tempinho. Tão lá há 10 anos e os relatórios mostram que quem mais ganhou dinheiro do governo na parte de comunicações nesse período foi... as Organizações Globo. Os petistas (os com cargo no executivo) não moveram um dedo pra mudar a coisa, mas moveram as duas mãos pra impedir qualquer mudança, como a proposta do Franklin Martins, resultado de debates no final do segundo governo Lula. Final do segundo governo, não início do primeiro, mesmo assim, aparentemente ja descartada. E tem gente que tem peninha ainda do pobre PT. Já tive também, confesso, mas acabou faz tempo. Leio O Globo e vejo o ministro das comunicações Paulo Bernardo, do PT, reclamando publicamente dos camaradas do seu partido que querem censurar a imprensa (com propostas de regulação da mídia que existem em quase todos os países democráticos). Que beleza, diria o filósofo e narrador esportivo Milton Leite.
Agora o sempre chato Mercadante, o pedante, vai na Folha homenagear o "seu Frias", justamente quando evidencias e mais evidencias mostram a parceria do "seu Frias" com a pior repressão do regime militar. Parceria, nesse caso, significa ajudar os milicos nas operações de captura e prisão de militantes de esquerda, tortura e morte destas pessoas, na maioria jovens. Sei que o "seu Frias" tá longe de ser exceção, e tem muita gente que adora isso, ditadura, que hoje gostaria de continuar fazendo, prendendo e torturando os "comunistas" todos. - e vão acabar conseguindo fazer isso....com o PT.
O texto do Marcadante é significativo pela clareza da subserviência, da admiração com o todo poderoso "seu Frias", ou "seu Marinho", "seu Mesquita", "seu Civita", "seu Sirotsky". As palavras são colocadas pra deixar claro um "sim senhor" sempre que ordens vierem (e não falo de ordens do PT). Não é nenhuma profecia, mas no dia seguinte a derrota nas eleições presidenciais, quando o PT virar caça de fato, não vão faltar petistas chorando pela perseguição, pelas prisões arbitrárias, pelas sentenças injustas no STF, como já vem sendo ensaiado no tal mensalão. Claro que o Bernardo não vai ser um desses petistas, vai ocupar um belo cargo em qualquer lugar, provavelmente em Curitiba. Já o Mercadante, mesmo ajoelhado, é tão chato que o Aécio/Campos/quem quer que seja não vai resistir, vai acabar chutando o cachorro morto.
PS - Recebo de algumas pessoas, infelizmente parentes, pelo facebook essa capa da Veja (sim, fazem isso ainda).
O incrível mesmo é o que falam junto com a imagem: "Todos são iguais perante a lei. Até mudarem a lei." Putz, deixa eu ler de novo. Então até hoje todo mundo era igual perante a lei? Melhor avisar os juizes, advogados, polícia, o Maluf, o Thor Batista - ops, tarde demais, o PT acabou com a igualdade. Malditos petralhas.
É realmente incrível, mas nisso reside a esperança do PT de continuar no poder mesmo com a caça da grande mídia, esse povo antipetista é tão tosco, mas tão tosco, que até o Mercadante parece inteligente. Bom, não, na verdade não parece mesmo assim.
Sim, parece coisa de classe média sofre (e é), mas realmente não consigo entender como grandes empresas fazem todo esforço possível pra não vender seu produto. Nisso são fantásticas, deveriam dar palestras sobre o assunto naqueles eventos de autoajuda corporativos. Quase sempre quando o tema é a tal "competitividade Brasil", o assunto descamba pra problemas de infraestrutura, portos, aeroportos, estradas ou então impostos. Não vejo ninguém falando da absoluta incapacidade - e falo aqui de empresas de grande porte - de prestar um atendimento mínimo ao cliente e, olha só, entregar o que é vendido (quando o infeliz consegue fazer a bendita compra). Tem Procon, sites e jornalistas especializados em defesa do consumidor, mas o problema é anterior ao quiprocó decorrente dos problemas pós-compras.
Pra exemplificar, continuando na linha classe-média-sofre, comprei no fim do ano passado um leitor digital, o tal e-reader, na Livraria Cultura. Gostei do aparelho - nada substitui o livro de papel blablabla, mas pra quem viaja bastante, pra ler contos e descobrir autores novos o aparelho tem sido muito útil. Fácil de usar, bom pra ler, bateria que dura semanas....a propaganda termina aqui. Comprado o aparelho o cara tem que comprar os tais ebooks. Aí a porca torce o rabo.
É de se esperar que uma livraria saiba como vender livros. É de se esperar que quem trabalhe ali, na cúpula, pense nisso. Livros eletrônicos são vendidos pela internet - e, parece, não foi ontem ou antes de ontem que o comércio online tornou-se quase hegemônico. Tempo e conhecimento pra se preparar todo mundo já teve. Vai tentar achar um livro eletrônico nos sites das grandes livrarias pra ver. Claro que as porcarias da moda, os tons de cinza todos, tão lá, na capa do site, mas vai tentar achar livros de verdade. Na Cultura então, é mais rápido digitar o livro físico todo e mandar pro aparelho do que achar o bendito e-book no site da empresa. Ou ele aparece na capa ou nas seções principais, ou esquece. Mecanismos de busca mostram tudo, menos o livro buscado. Não dá pra procurar por seções, tipo editora, suspense, literatura argentina, quando oferecem esse tipo de busca raramente funciona. A empresa precisa vender livros (acho), mas faz esforço abaixo de zero para que os livros sejam vistos por quem os procura, uma lógica própria de capitalismo. Sei que os e-books assustam as livrarias e editoras, é muito mais fácil trocar ou oferecer gratuitamente os arquivos digitais - os piratas. No entanto, mundo afora os e-books tão ocupando terreno, pra lidar com a coisa aqui as empresas têm feito o que históricamente fazem, enfiando a cabeça num buraco esperando o inimigo passar. Demoram o máximo possível pra lidar com o assunto (tipo, dez anos), quando é impossível ignorar, lançam o produto com preço nas alturas "por causa da pirataria" e, como sempre tem acontecido, ficam lá na idade da pedra. Vem uma Apple ou uma Amazon da vida e créu. Dá-lhe choro sobre impostos, falta de hábito de leitura do brasileiro, pirataria....e o imbecil que só quer comprar o bendito livro, pode sentar, e esquecer.
Logo que comprei o aparelho até mandei um e-mail pra Cultura, na base de dar sugestões, colaborar, afinal tinham acabado de lançar, podia ser só um problema de adaptação. Sugeri melhorar os sistemas de busca, possibilitar vizualizar livros por editora, ao invés de somente colocar "livros estrangeiros" ou "livros nacionais", dividir em várias seções, clássicos, suspense, policial, literatura russa, francesa, coisas assim, ajudando não só quem quer comprar um livro específico, mas quem, como eu, gosta de passear pelas opções, mas com a chance de escolher ou filtrar a busca. É claro que não rolou. Quase meio ano depois tá tudo na mesma.
Vi ontem no blog da Cosac Naify que tão colocando parte do catálogo em ebook na Cultura e na Saraiva. Na Saraiva também tem um monte de rolo pra baixar, tem que instalar um programa próprio da livraria no computador, cadastro, o livro só aparece ali....um monte de aporrinhação pra afastar o infeliz que quer comprar um livro. Na Cultura também tem que instalar o programa do Kobo, mas com o aparelho já cadastrado eu posso só comprar pelo computador e sincronizar o aparelho via wifi - e já aparece o bendito livro no Kobo, pronto pra ler. Em tese tudo fácil, mas antes tenho que achar o livro no site da Cultura. Tentei, juro. Clicando no banner da Cosac não vai pra lugar nenhum, digitando o nome dos livros, como o Três Mortes, aparece um monte de coisa, menos o livro, clicando em lançamentos, nada dos livros da Cosac. Realmente, é tão perfeitamente feito pra não funcionar que, não tenho dúvidas, há uma técnica sofisticada nisso.
Não é de estranhar que sites amadores ofereçam livros digitais gratuitos e de forma muito bem organizada. Em poucos passos dá pra achar o livro ou uma área de interesse, como livros policiais, por exemplo, dá pra navegar ali, ler notícias relacionadas, procurar livros semelhantes, olha só, inventaram a roda. Esses sites lucram quase nada, pedem doações, fazem tudo no braço e na raça - e nas horas extras de quem tá lá. E conseguem. Enquanto isso as grandonas, que vivem disso (acho, já desconfiando), nada fazem, apenas trocam os banners dos livros da moda conforme o jabá das editoras - ahh, fazem sim, reclamam dos impostos, da pirataria, do calor, do frio...
PS - Um exemplo da falta de cuidado das livrarias com quem gosta de ler é a revista mensal distribuída pela Saraiva. Tem de tudo ali, em aproximadamente 100 páginas, menos qualquer coisa voltada pra quem realmente gosta de ler. Notícias de palestras e livros de autoajuda, propaganda dos bestsellers, mais propaganda dos bestsellers, anúncios de aparelhos eletrônicos, isso não falta. Porém, um artigo, uma coluna, um espaço nas páginas todas, só um, que aprofunde algo de literatura, jamais vai ter. Fica tudo restrito às notinhas sem conteúdo, misto de notícia e propaganda, dessas que contaminam os jornais com as "notícias pra quem não tem tempo de ler notícias" (ou ler qualquer coisa), agora na versão "revista de livraria pra quem não gosta de literatura".
Legal novas formas de protesto, chamar a atenção pras causas e a opressão dos povos, a juventude se expressando e agindo politicamente e tal. Mas tem umas coisas meio estranhas nisso tudo, jeito mais de autopromoção do que preocupação genuína com os oprimidos do planeta (a la front man de megabanda de rock). Temos, por exemplo, as escandinavas (já globalizadas) do FEMEN, tirando diariamente suas blusas por aí. Nada contra, que continuem, muito melhor do que a apatia pura e simples. Mas, no campo chato da política, esse de verificar o impacto dos protestos na ação ou ações que desencadeiam em comparação ao que pretendem, a medida do sucesso das moças pode ser dada na cara do Vladimir Putin, posto diante de uma das militantes de topless que chamava-o de ditador num cartaz (sim, parece que tinha um cartaz nos braços dela).
Percebe-se claramente seu pavor, medo, angustia e intensa reflexão com o cartaz acusatório. Repare o olhar fixo de Putin nas duras palavras que a moça segura acima da cabeça. Deve estar cogitando pra breve sua renúncia.
Gosto muito de shows de rock, mas não tô com grana - nem muita paciência no momento - pra esses festivais todos. O Lollapalooza, mesmo dentro do quadro extorsivo da coisa, pelo menos tem boa programação de rock, até pensaria em ir. Como não tenho TV a cabo, não vi nem o multishow - e, depois das merdas todas que vi quando tentei assistir uma cobertura do canal de um festival desses é bem pouco provável que assistiria qualquer coisa ali.
Eis que lendo o blog do Barcinski me deparo com a frase dita por um dos apresentadores deste Lollapalooza:
"Jimmy Page e Eric Clapton devem ter ‘inveja branca’ de Dan Auerbach (do Black Keys)".
Repito
"Jimmy Page e Eric Clapton devem ter ‘inveja branca’ de Dan Auerbach (do Black Keys)".
Como disse o Barcinski, o coitado do Auerbach ficaria com muita vergonha de soubesse dessa comparação feita na TV. Depois do inigualável "repórter de campo", nossa invenção (ou aperfeiçoamento, ao menos) pra desaguar o besteirol durante um jogo de futebol, aplicamos agora o conceito "repórter de campo" aos festivais. Os caras não sabem onde estão, não têm absolutamente nada pra dizer e, contudo, tão ali pra falar. E falam. Sim, eu sei, cobertura ao vivo deve ser foda, confusão, correria, gente berrando, o diretor grita no fone duma hora pra outra vai que é tua e o cara tem que falar...mas custava botar alguém ali que tenha noção da coisa? Ou então...fica quieto, não põe ninguém e deixa a porra da banda fazer o show.
Tava até escutando um disco do Black Keys esses dias, el camino, legal, beleza. Aí o repórter de campo solta isso: (de novo, eu sei, técnica de tortura)
"Jimmy Page e Eric Clapton devem ter ‘inveja branca’ de Dan Auerbach (do Black Keys)".
Só pode ser um plano pra destruir a banda. Ser for isso é brilhante. Mas desconfio que é só mais um "repórter de campo".
Seriado na Netflix, no som original, em inglês, o personagem diz: homeless, na tradução literal, sem casa, próximo do nosso sem teto, a tradução mais precisa. Nada muito complicado, pois sem teto é de uso corriqueiro em português. Contudo, a legenda informa: vagabundo.
Nada nada, ajuda a justificar as barbáries de todo dia contra quem tá na pior. E não era um filme do Chaplin.
Família. Voltando às proezas do Jack Bauer - tirado da aposentadoria pela defesa descarada da prática da tortura pelo Calligaris na Folha - é curioso, assistindo as temporadas em sequência, como os roteiristas da série entendem urgência e tensão apenas quando alguém da família está diretamente em risco. Toda temporada de 24 HORAS coloca em questão a destruição dos Estados Unidos. Numa hora é o hecatombe nuclear, explodindo bombas ou derretendo os reatores das usinas nucleares, outra hora é com o uso de armas biológicas, ou então elegendo a Sarah Palin, enfim, sempre a destruição total na pauta. E não é o bastante, nunca é. TODA temporada precisa - pros roteiristas - colocar alguém da família em risco pra dar o verdadeiro sentido de drama, seja a insuperável filha do Bauer em seguidas temporadas, seja a mulher de alguém da unidade de contra-terrorismo, a irmã, pai, mãe...até ex-marido tá valendo. Ou seja, pro padrão cognitivo americano, milhares estão morrendo (ou em vias de), mas a coisa só fica feia mesmo se a mãe de alguém da série tá lá no meio.
Numa das temporadas, acho que a quarta, o refinamento da coisa chega ao uso do poder do estado pra torturar e, de quebra, aparar arestas familiares ou de relacionamentos mal resolvidos. Assim o pai, secretario de defesa, manda baixar o pau no filho rebelde (estereótipo de esquerdista inconsequente que encanta o conservadorismo americano). Um dos chefões da unidade de contra-terrorismo descobre que sua ex, de quem não gosta nadica, é, veja só, uma traidora do país. Dá-lhe porrada na salinha de "interrogatório". E então, a cereja do bolo, Jack Bauer descobre que o ex-marido recente de sua atual namorada - e que está atrapalhando seu relacionamento - pode, PODE, ter algum envolvimento com os terroristas de sempre... Jack, claro, é obrigado a interrogá-lo duramente, sempre correndo contra o relógio pra justificar. O nome do cara aparece numa lista e pronto, motivo suficiente no seriado pro Jack chegar já dando um safanão no cara, que já acorda amarrado numa cadeira, peito molhado, enquanto o Bauer arranca o fio do abajur berrando as ordens que dá em toda sessão de tortura. A sutileza da interpretação do agente federal pelo Kiefer Sutherland pode ser medido em duas formas de atuação que se alternam em questão de segundos num mesmo episódio: o modo sussurro, que ninguém entende direito o que o Jack fala, ou modo grito, onde palavras como move e outras são berradas repetidas vezes. Voltando ao ex-marido da sua atual, não tem nem um papinho antes, tipo, e aí, dá pra falar alguma coisa? Não, o Bauer já chega doidinho - literalmente - pra desencapar um fio. Tudo, sempre, claro, pra salvar criancinhas. Tortura como terapia familiar. Problemas com a sogra? Jack Bauer sabe o que fazer. O Calligaris em êxtase.
Sobre a defesa da tortura na Folha, é interessante a utilização de falsos dilemas morais pra apoiar a barbárie. Então pra salvar uma criança você tem que escolher entre torturar ou não um suspeito? Quando na maior parte das vezes não tem criança nenhuma pra ser salva, muito menos certeza de que quem está ali sabe ou não sabe de algo. Tortura-se a rodo mundo afora, terroristas, não-terroristas, suspeitos, vizinhos de terroristas, presos comuns, culpados ou não, pobres, ladrões de galinha, jovens lutando contra uma ditadura. Tortura-se, sempre, e, quando um dos torturados fornece alguma informação - como a localização do Bin Laden - imprime-se a lenda de que a tortura salvou milhares de vidas. Pra poder legitimar e continuar torturando outros milhares de "potenciais meliantes". Torturam porque gostam, podem e querem torturar. É poder. O resto é conversa.
Aliás, curioso como, na época da captura e morte do Bin Laden, muito da atenção sobre a ação do comando americano ficou disperso na dúvida sobre o cara ter ou não usado sua mulher (uma delas, ou várias, ou todas) como escudo contra os soldados americanos. Família, família.
O outro, o cardeal, bom, esse vai pregar o evangelho, o fortalecimento da fé católica blablabla, enquanto a igreja continuará atuando para os ricos e muito ricos, desprezando os pobres, insistindo na ficção do sexo apenas para procriação e combatendo todas as iniciativas concretas contra a AIDS, escondendo (quando possível) os escândalos de padres pedófilos, queimando bruxas, pedindo votos pro Serra e as coisas todas de sempre, até finalmente ser extinta - ou, mais provável, confirmar sua crescente irrelevância, que dá quase no mesmo.
Mas ao menos serviu pra dar risada com o susto dos apresentadores da Globo ao perceber que o papa era argentino. Ainda bem que não era o Galvão narrando.
O rechonchudo ex-fenômeno não gostou de ser chamado de gordo. Ficou puto, primeiro com Lula, ainda em 2006, agora com Alex Ferguson. Deixa eu entender como funciona a cabeça duma das celebridades que estão em todas (principalmente onde tem grana, feijoada ou travestis - ou tudo junto, se possível): o cara se apresenta pruma Copa do Mundo pesando uns 120 kg - e, logicamente, afunda o time. Depois vem se escorar, literalmente, no Corinthians, ganhando milhões por mês pra chegar pros jogos contra o Tolima, pela Libertadores, com uns 150 kg. Aposentado pela derrota pelo poderoso Tolima, chega aos 200 kg. O que faz então? Entra prum reality de perda de peso, repetindo: perda de peso, pro Brasil todo ver - e, pelo visto, pra Manchester, na Inglaterra ver também. Fora isso, ainda ganha mais uns trocos fazendo propagandas brincando com.... o peso. E resolve dar piti quando o sexagenário técnico do Manchester United compara um Ronaldo, o Cristiano, que é, vejamos, magro, com o outro Ronaldo, que é...., vamos ver....Ferguson precisava de uma palavra, apenas uma, na entrevista, pra contrapor um ou outro, qual seria?
O Ronaldo GORDO, disse o Sir, sobre o brasileiro. Não, não pode. É ofensa. Então não será chamado de Ronaldo, o gordo. Será Ronaldo, topa tudo por dinheiro (COL, 9nine, tudo que é propaganda, perder peso no Fantástico, etc e etc.). Ou Ronaldo, que acha que não existem provas contra o Ricardo Teixeira. Pode Ronaldo qualquer coisa, mas Ronaldo gordo é desrespeito. Pra dizer a verdade nada disso seria da minha conta não fosse o seguinte:
1- Chegar numa Libertadores com a 9 do Timão achando normal pesar 150 kg (e contando com toda imprensa "bem amigos da rede bobo" pra fingir que tá tudo bem). Porra, pode transar com quem quiser, com dois inclusive, mas entrar em campo, recebendo milhões, pesando uma tonelada e perder pro TOLIMA? GORDO!
2- O cara acha normal agenciar de tudo, carreiras, negócios, propaganda de todo mundo - e, ao MESMO TEMPO, ser o presidente do Comitê Local pra Copa do Mundo, o que vai decidir que obras serão feitas, que locais serão valorizados, onde e como, colocando várias vezes suas agências e interesses como beneficiados diretos das decisões do COL, mas tudo bem, a imprensa bem amigos da rede bobo também não vê nada de mais nisso. Colocar os filhos, crianças ainda, em tudo que é propaganda não ajuda em nada.
3- Finalmente, ele pesa quanto porra? Que palavra o Ferguson, eu ou qualquer um usaria pra diferenciar rapidamente o Cristiano Ronaldo do outro, o...
FHC pressionou Aécinho a sair do armário na corrida presidencial. Eduardo Campos pôs seu nome na rua, pondo mais pressão na panela do Aécinho. Hora do mineiro chamar pra si a responsabilidade, matar no peito, na expressão do ministro do STF, o Fux, quando mendigava votos pro cargo. Senador Aécinho anuncia então um discurso "duro" contra a pasmaceira econômica do governo Dilma, contrapondo a festa toda de aniversário do PT, os 10 anos no poder, Lula aparecendo aqui e ali. Chega a hora de falar, de mostrar ao Brasil que Aécinho é nome forte pra disputa presidencial - ao menos na repercussão orquestrada pela mídia amiga logo após o discurso, claro que quase ninguém tá vendo a TV Senado, mas as Cantanhêdes tão esperando, com a coluna pronta, só pra dar enter e enviar o e-mail pras redações, anunciando o sucesso das palavras duras de Aécio Neves contra Dilma. Aécinho então sobe à tribuna do senado, olhar confiante, meio bovino, é verdade, e começa a falar. E fala, fala...trinta minutos falando, criticando o PT e seus 10 anos no poder, Dilma, a economia, e....Nada. Absolutamente nada de útil saiu da fala do general tucano. Se até inimigos do PT avaliam que muita coisa deu certo, de que adiante criticar tudo? Não propor nada diferente do que já foi feito pelo PSDB e não funcionou? Aécinho é pouco mais do que nada.
Até o ex-presidente da UNE (vejam só) conseguiu destruir o discurso do Aécinho, entre outras coisas, pela notável ausência de povo, de trabalhador, de pobreza, na fala toda do senador mineiro. Nem parte da mídia amiga aguentou, botando dedo na ferida, na imutável demofobia (Elio Gaspari) tucana (nem sei se a Cantanhêde deu send no e-mail), não conseguem lidar com povo, apenas com a coisa abstrata da população, do eleitor, números do IBGE. Povo mesmo, suas carências e necessidades urgentes, concretas, nada.
Não digo isso pra falar de PSDB x PT, mas pra falar dessa incapacidade de grande parte da elite em sequer considerar a vida das pessoas mais simples, ou pessoas com modo de vida alternativo, que fogem ao padrão de consumismo maluco que molda o modo de vida dos ricos, muito ricos e seus fãs das classes todas. Como na frase atribuída a Maria Antonieta e os brioches ao povo com fome, líderes políticos e boa parte dos principais "formadores de opinião" não conseguem e, provavelmente, não querem mesmo tratar do povo a sério.
Uma das caras dessa elite demófoba é a jornalista Mônica Waldvogel. Já faz tempo que fujo da dona, com sua cara de nojo sempre que um tema caro pras esquerdas é abordado, mas recebo sempre vídeos com as reações da jornalista nos programas que apresenta, superando-se todo dia no esforço de vencer o botox pra fazer caras afetadas. Recebi ontem esse vídeo:
Seria inacreditável, não fosse a regra nesses ambientes "sofisticados". Ela sequer considera a bicicleta como opção de transporte, além de ridicularizar quem o faz, quem escolhe fazer isso (deixando o carrão na garagem) e quem não tem escolha, não tem carro ou auxílio transporte e PRECISA ir trabalhar - como o cara que o Thor Batista matou no acostamento. O exemplo do amigo dela, feito piada na festa (bom, vai na festa com a Waldvogel quem quer, se escolheu ser amigo dessa dona aí...) por defender a bicicleta como meio de transporte, é ilustrativo do requinte analítico desses sofisticados membros do café society. Não se trata de defender ou não, de achar ou deixar de achar, milhões de pessoas USAM bicicleta como meio de transporte, é um meio de transporte, ponto. Tem que desenhar isso pruma das principais jornalistas da Globo? Eu só fui andar de avião perto dos 30, se eu só andar de avião vez ou outra pra passeio eu posso desconsiderar avião um meio de transporte? Sim, na lógica tosca da Waldvogel, então avião e helicóptero não são meios de transporte - pra mim, ao menos. Parece conversa de bêbado, mas é logica típica dos leitores de Veja e esses lixos todos.
Parêntese: Triste ver o Xico Sá no mesmo vídeo, nem sabia que tava nesse tal Saia Justa. Ele devia ter ficado em casa - já escreve na Folha, participa do Cartão Verde (acho, não vejo mais), tá lançando livro pela Cia das Letras, precisava dessa saia justa não Xico, sai daí.
Não sou muito viajado, não conheço (exceto pelos livros e, agora, pela internet) o pensamento da elite pelo mundo, mas fico admirado como os jornalistas e a classe artística brasileira são, na maioria, reacionários. Não apenas conservadores, como vejo, por exemplo, nos EUA (onde pelo menos alguns humoristas costumam tirar sarro dos donos de tudo), mas, reacionários toscos, que pregam por aí um direitismo primário, desses que não se preocupam em manter, mesmo que aparente, uma relação com o mundo real, como o vídeo acima da Waldvogel mostra bem. Pelo que leio e vejo por ai, as elites e seus ideólogos de outros cantos sabem que vivem em bolhas, defendem isso, mas sabem também que tem muita gente fora das bolhas, e se obriga a articular algum discurso pra dar conta dessa desigualdade, ainda que pra defende-la. Aqui não, ignoram o povo, a desigualdade e pronto, como se as idéias do tea party americano aqui fossem a norma pra todos os conservadores. Pras Waldvogels, quem usa ônibus ou bicicleta como meio de transporte não existe e não importa.
Como é que essas Waldvogels espalhadas pelas redações de todos os grandes grupos de mídia vão dar conta dos assuntos que realmente importam se não sabem o que é povo? Mesmo do ponto de vista conservador essa postura (ou incapacidade) produz um discurso patético, desprovido de qualquer sentido. Não é, por exemplo, nenhum contrasenso que o governador de São Paulo escolha pra ser seu secretário particular (ui) alguém, no caso um jovem rapazola, que defende, na sua organização Endireita Brasil (mais?), publicamente a ditadura militar pós-64 (plus criminalização do MST, não a adoção por casais homossexuais e o blablabla todo de sempre), como não é nenhum contrasenso os grandes apoiadores da ditadura no Brasil bradarem, ao lado da onipresente blogueira cubana, contra a ditadura e a falta de liberdade na pequena ilha de Fidel.
Novo secretário pessoal (ui) do Geraldo, Clark Kent. Assumiu ser reaça, o resto ainda não.
É uma direita que abstrai não somente o povo, mas qualquer compromisso com a coerência. Não é, como dizem, a coisa da mentira repetida, porque não entendem como mentira. Pra ser uma mentira, seria necessário um raciocínio com um mínimo de articulação, e esse não é o caso - digo no sentido de avaliar, conceitualmente, o que caracteriza o regime de ditadura, a liberdade de expressão, em Cuba, aqui, hoje, ontem. Não fazem isso, nem sabem do que se trata. São pessoas (com excessão dos verdadeiros ideólogos, como o Elio Gaspari, por exemplo) que apenas sabem que estão do lado dos donos de tudo, e ficam tentando ajustar o que falam e pensam pra caber nos interesses do momento destes donos. E fazem isso naturalmente. Ninguém ensina a Waldvogel a ser escrota, ela é escrota e, pela escrotice, ganha destaque, promoções - e sabe disso, como o Marco Antônio Villa, o Magnoli e tantos outros que tentam, desesperadamente, mostrar publicamente que podem gritar exatamente o que os donos querem que seja dito, no momento preciso. Os colegas da Waldvogel sabem que ela ganha mais falando essas coisas - e quem falar diferente é tirado dali, seguindo o caminho do Franklin Martins. Esse até se deu bem, mas dezenas de jornalistas que peitaram a coisa acabaram sem emprego (e sem SECOM), nesse fantástico mundo democrático das empresas brasileiras de mídia, controlado por meia dúzia de famílias.
No mesmo programa Saia Justa, na época que o rei da Espanha deu o famoso por qué no te callas no Hugo Chávez, a atriz Maitê Proença fez um discurso inflamado. E sem nenhum sentido. Claro, feliz da vida com o calabocareal no índio da ralé sulamericana. Cito de memória, mas a Maitê, com caras e bocas de êxtase, exaltou o Rei, que mandou o Chavéz calar e, quando o "ditador" ia responder ao rei, Juan Carlos, numa "lição de postura, de democracia, se retirou da sala, deixando o pateta falando sozinho". Quer dizer que o Rei, o REI, da Espanha, vem pruma reunião de chefes de estado na América do Sul, manda um presidente eleito daqui calar a boca, sai sem ouvir a resposta, e dá uma lição de postura? Um reacionário pode até aplaudir de pé a postura do rei, mas dificilmente usaria a explicação eufórica, tão tacanha - e sem nenhum nexo - da atriz brasileira. Putz, que saudade da Maité no comecinho dos 80, quando andava pelas telas de cinema com uma camiseta branca, quase transparente, devidamente arrancada pelo Pedro Paulo Rangel. Era linda. Continua bonita, mas agora com essa cara de nojo das Walvogels da vida,que anula completamente a beleza (sem, em defesa da Maité, a aparência de botox vencido e mal posicionado da Waldvogel). Enquanto for esse tipo de gente (Jabor, Nelson Motta, alguém da Veja, Fiúza, alguém do casseta ou do cqc) a atacar o PT, até o Lindbergh dá conta.
Antes tinha algum sentido, algo ligado ao gosto pelas coisas da culinária ou coisas assim. Tinha até uma maionese. Agora surge em qualquer comercial pra essa praga moderna, as tais "pessoas VIP": espaço gourmet, varanda gourmet, petiscos gourmet....e baboseiras todas. Até cinema agora é oferecido com iguarias gourmet, pros felizardos das áreas VIP. Beleza. Nunca mais vou conseguir ouvir ou ler essa palavra a sério.
Sou corintiano. A torcida do meu time foi diretamente responsável pela morte de um garoto de 14 anos, o boliviano Kevin Beltrán. Ponto. O time foi punido, obrigado a jogar sem público. Pena grave prum time famoso pela união com a torcida. Insuficiente - como qualquer pena - pra reparar o crime de seu torcedor. Diferente de outros eventos, como shows, com platéia e banda, onde também ocorrem confusões com mortos e feridos, a torcida organizada dos grandes clubes no Brasil é alimentada e protegida pelos clubes, patrocinada com ingressos e viagens, mesmo após batalhas campais contra torcidas rivais registradas pela polícia. O clube é, dessa forma, responsável sim pelo comportamento selvagem da sua torcida organizada.
Isto dito, as imagens do jogo do Corinthians contra o Millonarios da Colômbia - o primeiro, em teoria, da aplicação da punição ao time - registraram a presença de quatro figuras devidamente fantasiadas de torcedores no estádio. Ganharam, os quatro, como "consumidores", na Justiça, uma liminar dando-lhes o direito de ir ao Pacaembu. Pagaram caro pelos ingressos, entraram na Justiça e, menos de uma semana depois, ganharam - não sem gastos muito maiores - sua ação. Em resumo, a Justiça, essa que chora por excesso de trabalho - embora seja uma das que mais corroem a verba pública com seus marajás legalizados (e aplicadores de lei, inclusive) -, em poucos dias se deu o trabalho de garantir aos quatro filhinhos de papai o direito de desrespeitar uma punição motivada pela morte de um garoto de 14 anos.
Temos aí um retrato perfeito das disneylandias onde habitam nossa elite - os filhinhos de papai e o judiciário com seus marajás todos. Não duvido, especulando, que estes quatro sejam do tipo que assinam essas manifestações de internet contra a corrupção, a queda do cara da CBF, que pedem o Joaquim Barbosa pra presidente, o afastamento do Renan e outras tantas babaquices inócuas, mesmo à esquerda, que fazem hoje pra se achar politizados no facebook. Digo inócuas não pela causa, independente de qual, mas pela evidente preguiça mental que faz assinar qualquer coisa que "pega bem", e, em contrapartida, dar sustento, no comportamento pessoal, a todas as práticas que os abaixo assinados de internet condenam.
Esses quatro torcedores, supostamente fanáticos pelo Corinthians, foram avisados que, indo ao jogo, poderiam ampliar a punição ao seu clube e, por extensão, prejudicar todos os corintianos. Não bastou. A ausência de torcida no jogo é uma punição pela morte de um garoto, uma tentativa de justiça, questionável ou não, mas ir ao estádio era também um foda-se se morreu um garoto, eu tenho dinheiro, comprei e vou. Foda-se. E alguém, um juiz no caso, concordou com o foda-se se morreu alguém.
O crime cometido em Oruro, a morte de Kevin, foi gravíssimo e acabou por revelar uma faceta ainda pior no jogo de ontem com seus quatro cretinos como torcida: uma elite de debilóides, que quer que se foda se matam ou não um garoto, e é sustentada - em tudo - pelo poder judiciário. Mas essa análise ninguém vai fazer. Se fizer, vai ser processado. E vai perder.
Para quem acha que o juiz apenas protegeu o consumidor, lembrei de alguns anos atrás, quando a Brasil Telecon inventou uma conta que eu já tinha pago (com comprovante apresentado no PROCON e tudo) e ficou me cobrando por meses, ligando em casa em qualquer horário (domingo de manhã, quarta depois das 22h), mandando cartas pra casa onde eu nem morava mais, ameaçando SPC e essas coisas. Seguindo a recomendação do PROCON fui ao juizado de pequenas causas e descrevi o processo todo, sem advogado mesmo, e sem muito tempo pra perder, mas achei tão claro o abuso de uma empresa ficar cobrando uma conta mesmo já tendo recebido cópias do comprovante de pagamento que, mesmo com toda desconfiança do judiciário, não achei que ia ter muito problema. Mas teve. Muito tempo depois do prazo pra casos de pequenas causas, a empresa (que vai quando quer nas audiências) alegou que errou de boa fé e eu é que estava com má fé, querendo dinheiro fácil (enquanto, no mundo real, eu prejudicava meu doutorado e pedia apenas o valor recomendado no tribunal de PEQUENAS causas, seguindo orientação do PROCON). E o juiz concordou com a empresa. Não me cobraram a conta de novo, que era muita cara-de-pau, mas a empresa não pagou nada. Hoje vejo a Oi, atual Brasil Telecon, sendo multada quase todo dia pela agência reguladora. Que surpresa. Imagino quanto abuso passou pela justiça nos últimos anos sem nenhum incômodo pra empresa. Vai respeitar as pessoas pra quê? Mas esse é apenas um caso pequeno (sem contar o histórico de impunidade que ocasiona hoje um serviço caótico na telefonia), ninguém morreu, mas deixou evidente o que eu e qualquer um já sabíamos: justiça não funciona, e as consequencias desse buraco negro na regulação das nossas vidas é muito grande - em todos os cantos, na formação de partidos políticos, na ação do executivo e legislativo, na absoluta incapacidade de uma obra custar um preço justo....na impunidade pra rico como regra.
Enquanto isso os quatro idiotas, amparados pela justiça, tavam lá, comemorando gol, pulando com celular na orelha - pra pular exatamente quando alguém avisa que estão aparecendo na TV, essas coisas toscas todas que formam a cultura dos donos de tudo por aqui. Ah, parece que eram, dois ao menos, parente do Gobbi, diretor do Corinthians. Perfeito. Lugar ideal pra blogueira cubana vir em sua "caravana pela liberdade" contra a ditadura em Cuba, acompanhada (e patrocinada) exatamente pelas pessoas que aqui deram sustento pra 20 anos de ditadura. E isso parece não ser nenhum paradoxo.
PS - O Leandro Fortes, falando da promotora que acusou os jovens que ocuparam a reitoria da USP de formação de quadrilha (protesto só pode pela liberdade que agrade os donos de tudo, quando não agrada, cadeia), lembrou dessa indústria de concursos públicos que movimenta milhões no Brasil - os concurseiros. Gente, via de regra, com tempo, apoio e dinheiro pra frequentar por anos cursinhos preparatórios e passar nos concursos que oferecem salário maior, não importa exatamente pra fazer o que - como é o caso dos promotores, juízes, técnicos da Receita Federal ... gente que vai decidir o que pode ou não no país, só isso. Se o concurso público é melhor do que o apadrinhamento político pra preencher vagas, já está ficando evidente que deve ser melhorado, incluir além de questões técnicas outras formas de avaliar a aptidão dos candidatos pra "coisa púbica", do tipo: quer só ganhar dinheiro? Vai trabalhar por Eike. Aqui vai ter que ralar pra atender o interesse da população, do povo. Sei que parece abstrato, mas há formas de avaliar com alguma objetividade o que o candidato pensa do interesse público, prevendo e impedindo, por exemplo, a contratação de pessoas sem nenhum preparo pra tratar de assuntos complexos, como a referida promotora, que chamou os alunos da USP de quadrilha e achou tranquilo tuitar xingamentos ao PT como qualquer leitor da Veja, e disse que o que faz no privado não é da conta de ninguém, sem entender que ocupa um cargo de Promotora de Justiça. E o mais grave é que nunca vai entender.
PS 2 - Leio no UOL que o perito que atestou o excesso de velocidade no carro dirigido pelo Thor Batista, que matou um trabalhador que voltava pra casa de bicicleta, foi afastado das funções. Pecou. Pecado grave, trabalhou pra Justiça, não pra justiça minúscula.