Dessas coincidências da vida, abri a internet numa manhã e vi essa foto do Sebastião Salgado, que mostra o atentado sofrido por Ronald Reagan em 1981. Nem tinha idéia que o Salgado tava por lá. A noite coloquei um seriado que tinha baixado, The Americans. Logo no terceiro (acho) episódio o assunto é justamente o tiro dado em Reagan. Não tava esperando muito da série, mas gostei do que vi até aqui (5 episódios).
O episódio do tiro no presidente dos Estados Unidos foi muito bom, mostrando o frenesi todo dos agentes da KGB operando dentro dos EUA, os lendários agentes do Diretório S (ao menos pra quem lê livros de espionagem), agentes infiltrados por longos períodos, treinados pra parecerem exatamente como os cidadãos do país espionado ("falam inglês melhor que nós", nas palavras de um agente do FBI na série) - e que deram margem ao discurso de caça as bruxas dos Macartismos, o medo inflado do espião que mora ao lado, que trabalha com você, que frequenta sua casa, toma uma cerveja no seu churrasco. E é aí que quero ver onde vai essa série, afinal tem como heróis dois espiões soviéticos e suas missões em território americano, vivendo como uma perfeita família americana, destas de subúrbio (que lá é classe média) com um casal de filhos adolescentes (que não sabem da vida oculta dos pais). Afinal, sabemos todos como termina essa guerra fria, sabemos que os caras da KGB vão perder, capturados, mortos ou, como é provável na série, convertidos ao hamburger com coca. Um dos agentes já mostrou que tá louco pra pular fora, que no fundo gosta dos americanos e seu way of life, enquanto a agente vivida pela Keri Russel, fica puta com o marido (ou colega) e diz que prefere morrer pela União Soviética. Não é muito difícil prever, com o decorrer da série, qual dos dois vai prevalecer, já que, afinal, é uma série feita por e para norte-americanos. Isso dito, até aqui fizeram boas escolhas, com o clima retro dos 80, as rotinas de espionagem e contraespionagem, com seus códigos, sinais, protocolos, coisas normalmente deixadas de lado em séries e filmes ou então simplificados em clichés de tal forma que ser espião infiltrado em um país hostil parece dia de aula na high school (Alias, Chuck, Covert Affairs, Nikita, por exemplo).
No episódio dedicado ao tiro dado em Reagan mostraram a correria do FBI procurando envolvimento da KGB, afinal Reagan tinha endurecido muito o discurso contra o "império do mal", prometendo destruir a União Soviética. Do outro lado, a correria da KGB tentando entender o que tinha acontecido. O foco foi um fato imediatamente após o atentado, a declaração do secretário de estado, Alexander Haig, de que tinha o "controle da Casa Branca". O que isso significava exatamente? Era uma ameaça? Um golpe (já que o vice-presidente era o Bush pai)? A reação soviética - e a proporção desta reação - dependeria do tipo de informação passada pelos agentes do Diretório S.
Mas confesso que outro lado da coisa ficou martelando na minha cabeça. John Hinckley, o cara que tentou matar Reagan, conseguiu - ou quase - sozinho o que poucos comandos militares conseguiriam se tentassem. Hinckley penetrou - veja a foto do Salgado - numa das couraças protetoras mais caras e treinadas do mundo, ferindo gravemente o presidente dos Estados Unidos, dois agentes do serviço-secreto e o secretário de imprensa. E fez tudo isso pra chamar a atenção desta garota:
A jovem atriz Jodie Foster, do filme Taxi Driver, que, saberíamos depois, não daria a mínima pra alguém como o Hinckley, com atentado ou sem atentado.
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