terça-feira, 28 de maio de 2013

A direita que a direita gosta

O cantor Amado Batista comparou a tortura sofrida nas mãos do governo militar como "uma mãe que corrige o filho". Bom, se o cara acha bacana ser corrigido no pau de arara, com muita pancada e choques elétricos, é do gosto dele. Cada um é cada um e eu gostaria de poder facilitar acesso a livros subversivos a qualquer um (foi o "crime" do Amado, pelo depoimento) sem uma mãe pra me espancar até quase a morte, as vezes sem o quase. Mas devo ser meio maluco já que o mundo hoje parece ser dominado pelos reaças zumbis, figuras que andam sem rumo, procurando cérebros pra devorar. Provas? Olhe os comentários no portal Folha logo após a nota do Amado dizendo que curtiu ser torturado como processo corretivo:

Comentário 1) Esse tipo de raciocínio a Comissão da "Verdade" não contempla, para eles torturado sempre são coitadinhos. Não gosto das musicas de Amado Batista mas o admiro pela coragem de uma declaração que cala a boca de muitos esquerdiotas

Não, torturado não é sempre coitadinho. Tenho pena mesmo é dos caras que tinham que ficar noite e dia batendo, batendo, estuprando, dando choques, batendo, batendo e matando os caras que queriam - vejam só - o fim do regime militar que derrubou um presidente legítimo. Ahh, como também não pega bem declarar amor ao cantor brega, convém ressaltar que está somente aprovando uma declaração que cala a boca de muitos esquerdiotas. Como? Não sei bem, acho que a lógica é: Amado Batista gostou de ser torturado, foi uma mãe ensinando o filho, logo, quem não gostou de ser torturado, espancado, estuprado ou morto, é um esquerdiota ressentido. Pronto, argumento lúcido é isso, um pensador brilhante, destes que a direita adora. 

Comentário 2) Que briga Amado Batista está comprando com os demais terroristas brasileiros !!!

Lindo esse. Então o Amado era também um terrorista, pois permitiu que pessoas tivessem acesso ao Manifesto Comunista, por exemplo. Que bom conversar sobre um tema tão complexo com pessoas que sabem definir o que é ou não terrorismo assim de pronto: Se eu gosto da causa, pode mandar prender, bater, torturar, estuprar, matar, explodir que tá liberado, é defesa da "liberdade". Se eu não gosto, se é coisa de comunista, é tudo terrorista mesmo e merecem morrer. E isto foi só o que apareceu na página da notícia, tenho medo, muito medo, eu e Regininha Poltergeist Duarte, do que contém as páginas seguintes de comentários. Como já disse o tal do Danilo Gentili, ele quer que se foda quem foi torturado pela ditadura, nem tinha nascido e não pediu pra ninguém apanhar por ele, portanto, dane-se. Ele pode falar uma coisa dessas (num show) justamente porque pessoas apanharam e morreram, mas essa é uma reflexão muito profunda pro jovem humorista.

PS - Hoje, na Folha, a nota sobre a declaração do Amado Batista precedeu outra notícia de tortura na ditadura, ou educação de mãe pra filho (ou esquerdiotas, no caso) na opinião dos leitores do portal Folha. Era o caso do jornalista Vladimir Herzog, que morreu torturado e não pode aproveitar todo o aprendizado fornecido pelos torturadores, como podemos ver no caso do Amado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário