Sim, parece coisa de classe média sofre (e é), mas realmente não consigo entender como grandes empresas fazem todo esforço possível pra não vender seu produto. Nisso são fantásticas, deveriam dar palestras sobre o assunto naqueles eventos de autoajuda corporativos. Quase sempre quando o tema é a tal "competitividade Brasil", o assunto descamba pra problemas de infraestrutura, portos, aeroportos, estradas ou então impostos. Não vejo ninguém falando da absoluta incapacidade - e falo aqui de empresas de grande porte - de prestar um atendimento mínimo ao cliente e, olha só, entregar o que é vendido (quando o infeliz consegue fazer a bendita compra). Tem Procon, sites e jornalistas especializados em defesa do consumidor, mas o problema é anterior ao quiprocó decorrente dos problemas pós-compras.
Pra exemplificar, continuando na linha classe-média-sofre, comprei no fim do ano passado um leitor digital, o tal e-reader, na Livraria Cultura. Gostei do aparelho - nada substitui o livro de papel blablabla, mas pra quem viaja bastante, pra ler contos e descobrir autores novos o aparelho tem sido muito útil. Fácil de usar, bom pra ler, bateria que dura semanas....a propaganda termina aqui. Comprado o aparelho o cara tem que comprar os tais ebooks. Aí a porca torce o rabo.
É de se esperar que uma livraria saiba como vender livros. É de se esperar que quem trabalhe ali, na cúpula, pense nisso. Livros eletrônicos são vendidos pela internet - e, parece, não foi ontem ou antes de ontem que o comércio online tornou-se quase hegemônico. Tempo e conhecimento pra se preparar todo mundo já teve. Vai tentar achar um livro eletrônico nos sites das grandes livrarias pra ver. Claro que as porcarias da moda, os tons de cinza todos, tão lá, na capa do site, mas vai tentar achar livros de verdade. Na Cultura então, é mais rápido digitar o livro físico todo e mandar pro aparelho do que achar o bendito e-book no site da empresa. Ou ele aparece na capa ou nas seções principais, ou esquece. Mecanismos de busca mostram tudo, menos o livro buscado. Não dá pra procurar por seções, tipo editora, suspense, literatura argentina, quando oferecem esse tipo de busca raramente funciona. A empresa precisa vender livros (acho), mas faz esforço abaixo de zero para que os livros sejam vistos por quem os procura, uma lógica própria de capitalismo. Sei que os e-books assustam as livrarias e editoras, é muito mais fácil trocar ou oferecer gratuitamente os arquivos digitais - os piratas. No entanto, mundo afora os e-books tão ocupando terreno, pra lidar com a coisa aqui as empresas têm feito o que históricamente fazem, enfiando a cabeça num buraco esperando o inimigo passar. Demoram o máximo possível pra lidar com o assunto (tipo, dez anos), quando é impossível ignorar, lançam o produto com preço nas alturas "por causa da pirataria" e, como sempre tem acontecido, ficam lá na idade da pedra. Vem uma Apple ou uma Amazon da vida e créu. Dá-lhe choro sobre impostos, falta de hábito de leitura do brasileiro, pirataria....e o imbecil que só quer comprar o bendito livro, pode sentar, e esquecer.
Logo que comprei o aparelho até mandei um e-mail pra Cultura, na base de dar sugestões, colaborar, afinal tinham acabado de lançar, podia ser só um problema de adaptação. Sugeri melhorar os sistemas de busca, possibilitar vizualizar livros por editora, ao invés de somente colocar "livros estrangeiros" ou "livros nacionais", dividir em várias seções, clássicos, suspense, policial, literatura russa, francesa, coisas assim, ajudando não só quem quer comprar um livro específico, mas quem, como eu, gosta de passear pelas opções, mas com a chance de escolher ou filtrar a busca. É claro que não rolou. Quase meio ano depois tá tudo na mesma.
Vi ontem no blog da Cosac Naify que tão colocando parte do catálogo em ebook na Cultura e na Saraiva. Na Saraiva também tem um monte de rolo pra baixar, tem que instalar um programa próprio da livraria no computador, cadastro, o livro só aparece ali....um monte de aporrinhação pra afastar o infeliz que quer comprar um livro. Na Cultura também tem que instalar o programa do Kobo, mas com o aparelho já cadastrado eu posso só comprar pelo computador e sincronizar o aparelho via wifi - e já aparece o bendito livro no Kobo, pronto pra ler. Em tese tudo fácil, mas antes tenho que achar o livro no site da Cultura. Tentei, juro. Clicando no banner da Cosac não vai pra lugar nenhum, digitando o nome dos livros, como o Três Mortes, aparece um monte de coisa, menos o livro, clicando em lançamentos, nada dos livros da Cosac. Realmente, é tão perfeitamente feito pra não funcionar que, não tenho dúvidas, há uma técnica sofisticada nisso.
Não é de estranhar que sites amadores ofereçam livros digitais gratuitos e de forma muito bem organizada. Em poucos passos dá pra achar o livro ou uma área de interesse, como livros policiais, por exemplo, dá pra navegar ali, ler notícias relacionadas, procurar livros semelhantes, olha só, inventaram a roda. Esses sites lucram quase nada, pedem doações, fazem tudo no braço e na raça - e nas horas extras de quem tá lá. E conseguem. Enquanto isso as grandonas, que vivem disso (acho, já desconfiando), nada fazem, apenas trocam os banners dos livros da moda conforme o jabá das editoras - ahh, fazem sim, reclamam dos impostos, da pirataria, do calor, do frio...
PS - Um exemplo da falta de cuidado das livrarias com quem gosta de ler é a revista mensal distribuída pela Saraiva. Tem de tudo ali, em aproximadamente 100 páginas, menos qualquer coisa voltada pra quem realmente gosta de ler. Notícias de palestras e livros de autoajuda, propaganda dos bestsellers, mais propaganda dos bestsellers, anúncios de aparelhos eletrônicos, isso não falta. Porém, um artigo, uma coluna, um espaço nas páginas todas, só um, que aprofunde algo de literatura, jamais vai ter. Fica tudo restrito às notinhas sem conteúdo, misto de notícia e propaganda, dessas que contaminam os jornais com as "notícias pra quem não tem tempo de ler notícias" (ou ler qualquer coisa), agora na versão "revista de livraria pra quem não gosta de literatura".
PS - Um exemplo da falta de cuidado das livrarias com quem gosta de ler é a revista mensal distribuída pela Saraiva. Tem de tudo ali, em aproximadamente 100 páginas, menos qualquer coisa voltada pra quem realmente gosta de ler. Notícias de palestras e livros de autoajuda, propaganda dos bestsellers, mais propaganda dos bestsellers, anúncios de aparelhos eletrônicos, isso não falta. Porém, um artigo, uma coluna, um espaço nas páginas todas, só um, que aprofunde algo de literatura, jamais vai ter. Fica tudo restrito às notinhas sem conteúdo, misto de notícia e propaganda, dessas que contaminam os jornais com as "notícias pra quem não tem tempo de ler notícias" (ou ler qualquer coisa), agora na versão "revista de livraria pra quem não gosta de literatura".
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