quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Amareladas parte 2


Divertida a fala do Gilberto Carvalho à militância petista. Quer dizer que o PT amarela, amarela e amarela de novo, em todas as instâncias e, quando o bicho pega, como sempre vai pegar, o partido chama às ruas seus militantes pra enfrentar o tal "pig". Beleza. Que tal lembrar que já estão há 10 anos no poder, sem fazer nada pra reformar a concentração antidemocrática na propriedade dos meios de comunicação - como alertam militância e não militância há décadas.

Aliás, fez sim, continuou a transferir dinheiro público pra sustentar essa mesma imprensa antidemocrática. Parabéns. Mexam as bundas das poltronas governista primeiro, retomem os programas de acesso à cultura lá dos primeiros tempos do PT, hoje enterrados. Comecem aí, no topo do partido, a enfrentar a mídia conservadora, depois a gente conversa sobre apoio. 

PS: Na Folha "Relator da CPI do Cachoeira diz ter sido abandonado pelo PT. Texto do deputado petista Odair Cunha perdeu por 18 a 16 na sessão em que dois senadores de seu partido faltaram"

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Diálogos pra História

Tudo bem, quem quer um roteiro bem construído, diálogos precisos e afinados, vai assistir Breaking Bad, jamais vai ver 24 horas. Mas, contudo, porém, pelas netflixs da vida, acabei repassando recentemente a vida do heróico Jack Bauer em revista. Como esperado, dei de cara com alguns dos diálogos mais absurdos que já vi - e olha que cresci nos anos 80. 

De longe, o que ganhou o troféu, aliás, troféu nada, hour concour total,  foi a conversa de Jack com sua filha Kim. A loirinha tem a duvidosa honra de batizar um dos personagens mais imbecis da história da TV desde que o primeiro transistor foi posto pra funcionar, e aqui ela exercita sua melhor forma, mostrando todo o potencial que a consagraria.


Kim recebe uma visita de seu pai, Jack. Ela não quer falar com ele, ama ele, coisa e tal, mas traumatizada com os eventos da primeira temporada a moça diz que precisa de um tempo e essas coisas tolas de roteiro tolo. Eis que Jack recebe uma informação bombástica, literalmente (e do tipo nuclear), e sai correndo pra ligar pra Kim e alertá-la. 

A loira atende o telefonema de seu pai (que trabalhava até pouco tempo na divisão de contra-terrorismo do governo dos EUA) com aquela cara de patricinha contrariada. Jack fala: querida, estou aqui na (sigla da divisão de contra-terrorismo) e acabei de saber de uma coisa importante, temos que sair de Los Angeles neste minuto. [diálogos de memória, mas o espírito foi esse] Kim: pai, já disse que não quero falar com você agora, quando estiver pronta te procuro. Jack (voz desesperada): Tá bom, não precisa  falar comigo, mas você precisa sair de Los Angeles agora, faça isso (barulho de telefone desligado na cara). Kim de biquinho, cara de patricinha deprê. SENSACIONAL. Humor de primeira. Teu pai é um agente fodão no combate ao terrorismo, te liga dizendo que tá lá na sede da divisão de combate ao terrorismo, que tem uma informação importante e é pra você cair fora da cidade o quanto antes e...você desliga na cara dele e fica biquinho depré, e não atende mais as ligações todas que ele faz. GÊNIO.


Na minha lista das figuras que merecem deitar na mesa coberta de plástico do Dexter e receber o tratamento de pele que moço aplica, essa loirinha tá disparado no primeiro lugar.


PS - Na primeira temporada a loira já tinha feito de tudo pra conquistar a audiência com sua inteligência apurada. Ao escapar de um grupo de terroristas (quem assiste as temporadas de 24 horas fica com a impressão de que tem mais terroristas que habitantes lá nos EUA) a moça vai procurar refúgio com....o moleque bandido que tinha acabado de sequestrá-la pros mesmos terroristas. Sim, ela tava meio interessada no cara e ele disse que tava arrependido, mas claro que ela se fode de novo. Algum roteirista iluminado passou as primeiras temporadas inteiras do seriado achando que colocar a loira em situações de perigo - mesmo sem sentido nenhum - elevava a tensão sobre o seu pai protagonista, até que uma hora devem ter falado pro iluminado roteirista que, naquela altura do campeonato, não só a audiência como o próprio Jack Bauer estavam querendo que a Kim explodisse - em câmera lenta e em close, tamanha a capacidade da patricinha chata fazer merda. E tiraram a moça da série. Infelizmente sem explosão. Ou o Dexter.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Como funciona parte 3: autoajuda

Como nas igrejas,  o típico adepto da autoajuda (o que paga, não o que forra o bolso de grana) tem como pressuposto necessário a falta absoluta de confiança na sua atividade cerebral. Bom, na verdade quem forra o bolso também não foge muito desse diagnóstico, mas como não pega bem chamar o cara que pode pagar suas contas de imbecil, os gurus de autoajuda usam em abundância o eufemismo baixa autoestima pra referir-se as suas vítimas ao seu público alvo. Então, pra pessoa tapada com baixa autoestima, faz-se necessário um ser iluminado pra lhe mostrar o caminho da luz. Pra uns (muitos) esse iluminado é jesus, o nazareno. Pra outros, além de jesus, o nazareno (pois o adepto da autoajuda é, logicamente, adepto de alguma religião - forma milenar de autoajuda), o ser iluminado pode ser também o Gabriel Chalita, o Shinyashiki, o Augusto Cury, o já meio fora de moda Lair Ribeiro (que usa o também eufemístico título neurolinguista pra não assinar charlatão nos livros), quem escreveu O Segredo ou O Monge e o Executivo e qualquer das centenas de charlatões do momento.

Pessoas com um ou outro neurônio (ativos) tendem a desprezar a literatura de autoajuda. Eu, com minha erudição beirando a zero (numa escala de zero a cem), talvez, exatamente por isso, não tenho nenhuma má vontade com as obras deste gênero. Tenho é muita vontade, de vomitar, a cada frase ou capa de livro duma dessas porcarias que vejo aí, nas livrarias e catálogos que recebo. Mas há um problema evidente nessa postura. Ignorar ou vomitar não anula a recepção em massa destas obras por aí. E não ajuda a entender também.

 Foto: Revista Trip

Lá dentro dos muros do convento, um lugar também conhecido como universidade, sei que tem algumas teses e dissertações que dão conta, ou tentam, do fenômeno da autoajuda, mostrando que, além de enriquecer alguns charlatões, as obras servem de instrumento necessário ao controle da gerência capitalista. Grosso modo, o Fredric Jameson identificou no pós-modernismo e suas "desconstruções" das grandes narrativas, suas pós-ideologias, pós-industriais, sociedade do conhecimento...uma perfeita cobertura cultural ao momento econômico que ele chama capitalismo tardio - do Mandel, dos frankfurtianos. Quer dizer, na virada dos 60 pros 70, e seguindo pros 80, era econômica e politicamente, necessário ao capitalismo obstruir as políticas esquerdistas, ligadas ao período industrial e ao marxismo, como as lutas sindicais. Nada melhor que uma cultura "antenada" que pregue exatamente o fim dessas modernidades, o fim das classes, o pós-tudo isso. Claro que isso é só uma aspecto, e o Jameson mesmo mostra que as transformações indentificadas com o pós-moderno aconteceram - e foram aceitas amplamente - e não adianta ficar dizendo que não gosta, fazendo biquinho. Com a autoajuda é algo parecido. Não, não estou dizendo que o Dale Carnegie ou quem escreveu O Segredo são idênticos ao que representam o Barthes ou o Lyotard, mas no ambiente completamente avesso à cultura mais profunda, a partir dos 90, era evidente que a lógica do neoliberalismo incentivaria uma visão cultural desprovida de qualquer espírito crítico ou postura coletiva, daí AUTO AJUDA.

Não é um complô capitalista, mas uma necessidade da economia sem freios do chamado neoliberalismo, que se casa com os interesses de uma pseudocultura encarregada de: 1) promover essa economia na lógica dos patrões, daí o discurso empreendedor. 2) desqualificar os seus críticos, os "esquerdistas", "perdedores". A lógica é simples, quem faz isso ganha espaço e dinheiro, vai dar entrevista na GloboNews...Quem não faz, fica restrito aos círculos acadêmicos e outros espaços com visibilidade muito menor - até mesmo pelo conteúdo da crítica, pois poucas pessoas sacariam um livro do Jameson chamado Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio pra ler enquanto espera o voo em Congonhas. Melhor pegar O Monge e o Executivo. Daí uma pseudocultura hegemônica, onipresente nas estantes das livrarias, citada e recitada o tempo todo como exemplo de sabedoria. Não é por acaso que a chamada ciência do capital, a Administração, tenha se tornado praticamente sinônimo de autoajuda. A consequência do pós-modernismo não foi um aprofundamento dos Lyotard, Mcluhan, Barthes, Baudrillard, Derrida, Deleuze e outros pensadores igualmente interessantes. Foi a proliferação dos Chalitas e Shinyashikis.

Por que desconfiar: Enquanto quem tem um neurônio ativo torce o nariz, esse povo da autoajuda vai construindo uma cultura da adaptação que se encarrega de satisfazer qualquer vontade dos patrões. Não se trata apenas, como alguns consideram, um problema do tonto que compra essas coisas, onde o guru lança lá a baboseira, dá suas palestras caríssimas e paga por isso quem quer. Como cultura, mesmo pseudo, e cada vez mais hegemônica e menos sub, a autoajuda molda,  ideologicamente, uma visão de mundo. E esse mundo planificado é, via de regra, avesso ao humanismo, ao aprofundamento do conhecimento, ao pensamento crítico...e por aí vai. Sei que pensamento crítico, conhecimento aprofundado e essas coisas soam abstratas, mas vai tentar dar um aula prum típico ser criado nessa cultura pra ver a coisa materializada. Pede pra criatura ler um texto razoavelmente profundo de mais de 3 páginas e vê o que acontece.  Quem acha que essa é apenas uma subárea da cultura, restrita aos nichos, vai dar uma olhada no cinema de shopping aí perto. Vê o que tá passando, o que faz sucesso.

Consequências: se você for professor/aluno de uma escola pública, dessas clássicas, caindo aos pedaços, superlotada, sem mesas e cadeiras pra tanto aluno, banheiros inutilizáveis, alunos convivendo com o crime organizado...enfim, tudo na merda ou quase isto, ao invés de se revoltar, se unir aos moradores do local e pressionar políticos e governos pra mudar, você vai ter que lidar com coisas assim: o importante é o amor, só o amor e o afeto podem mudar as condições adversas....O amor é capaz de quebrar paradigmas, barreiras, ranços. É o amor que nos envolve, que nos move. O amor do professor pode salvar seus alunos...Assim pensa um dos "grandes pensadores da educação no Brasil", no caso o Gabriel Chalita, que além de grande pensador da educação é político com algum poder, deputado federal com grande número de votos, candidato derrotado a prefeito de São Paulo (mas com boa votação pra cacifar futuras ambições), ex secretario estadual da educação em São Paulo no PSDB de Alckmin e com prestígio agora junto ao PT pra influenciar na área - e autor prolífico, com mais de 30 livros publicados antes dos 40 anos, incluindo clássicos como Educar em Oração ou Seis Lições de Solidariedade com Lu Alckmin (sim, puxando o saco na cara dura da mulher de seu então chefe, governador do estado).

Este é apenas um exemplo de como esta cultura de puxa saco de patrão, que desvaloriza qualquer conteúdo sério, impregnou de tal forma nossas vidas que, mesmo quem jamais se aproximou de um livro desses vai ter que aguentar um de seus gurus influenciando diretamente em políticas da educação. Mesmo um alienado como eu, que tentou acompanhar a cobertura do UOL das olimpíadas de Londres, notou uma foto estranha na lista normal de colunistas do portal, como o Juca Kfoury. Numa daquelas típicas fotos de charlatões - sorrizão forçado (simulando descontração em excesso) e expressão de que quer te vender um carro usado que funciona que é uma beleza, o guru Roberto Shinyashiki aparecia diariamente com suas pitadas de sabedoria pra julgar o comportamento dos atletas brasileiros, quem tinha espírito vencedor ou não. Realmente, é preciso um elevado brilhantismo intelectual pra dizer, depois da derrota, que a saltadora com vara tem problemas pra alcançar o sucesso. Imagino, num raciocínio análogo, que os medalhistas de ouro tenham, como característica, a facilidade pra alcançar o sucesso. Tautologia tosca, mas que deve pagar bem - pro Shinyashiki. E eu, que já me achava meio tonto por ainda prestar atenção nesse tal de esporte, vejo que o principal portal de notícias do Brasil vai mais além, considerando quem acompanha esporte ali um imbecil por inteiro.

Um exemplo mais sério e bastante comum: quem trabalha numa grande empresa já deve ter passado por essa, uma situação foda, salários baixos, ameaça de demissão em massa, fechamento de unidades, mudança da tua unidade pruma cidade na puta que pariu e....aparece um guru de autajuda contratado a peso de ouro pela empresa (que dizia pro sindicato que tava quase falida) pra dar uma palestra motivacional e "ajudar a enfrentar os desafios, as mudanças de paradigma". Você, claro, é obrigado a ir. Senta lá, na hora marcada, e começa o show com o cara botando uma musiquinha de pássaros pra "tirar as nuvens que nublam o ambiente". Como é sempre possível piorar, logo o guru começa com aquelas dinâmicas retardadas todas, que fazem de tudo, menos tratar da merda da situação em que tá teu trabalho naquela maldita empresa.

A aceitação ampla destas baboseiras está muito longe de restringir-se ao espaço pessoal do cara que vai na livraria e compra esse lixo. É a afirmação de uma cultura incapaz de ser original, de pensar, refletir, olhar pra si e criticar o que vê. Detesto o hábito de comparar tudo que se julga errado com algo tirado do nazismo - uma prática habitual dos péssimos comentários da internet. Mas sempre que vejo uma figura dessas da autoajuda dando "lições" de sucesso aos mortais, lembro da Hannah Arendt acompanhando o julgamento do Adolf Eichmann. O antigo oficial da SS responsável pela logística dos campos de concentração nazistas, observou Arendt, era incapaz de um pensamento original. Quando, com muito custo, conseguia falar algo que saísse do lugar comum, Eichmann, contente com si mesmo, repetia isso até virar mais um dos seus habituais clichés.

Não estou dizendo que quem lê o Shinyashiki, o Chalita ou O Segredo vai sair por aí querendo organizar um campo de concentração. Mas também não vejo esse adepto da lavagem cerebral autoajuda como alguém capaz de se opor a isso - ou se opor às ditaduras, tortura, politicas de extermínio... Taí Gaza, um campo de concentração controlado pelo povo que sobreviveu aos campos de concentração, pra mostrar que hoje em dia podemos aceitar qualquer coisa, desde que tenha um cliché explicativo pra confortar a consciência e adormecer ainda mais nosso já atrofiado cérebro.

Assim, depois que alguém na Palestina dá uma estilingada num israelense, achamos perfeitamente normal o bombardeio de áreas civis pelos mais modernos e pesados armamentos de guerra israelenses - adquiridos juntos ao "líder do mundo livre", como se auto intitula o presidente dos EUA - como, por exemplo, caças de guerra F-16 e helicópteros Apache. Também não tem nada de mais se Israel jogar nas áreas civis, cheias de crianças, bombas de fósforo branco (proibidas pelas convenções da ONU) que queimam profundamente a pele de quem entra em contato com a fumaça criada pela substância . Não, nenhum guru da autoajuda vai falar disso, o mundo deles é, na aparência, outro. Mas é esse outro mundo que possibilita e incentiva o massacre de civis no mundo de verdade, o de Gaza.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Bebo sim, mas não preciso ser um cretino

Dizem meus amigos da publicidade que o Brasil é "primeiro mundo" no ramo. Um montão de Leão de Ouro em Cannes e outros prêmios tão aí de prova. Começa que primeiro mundo é um termo tolo, classemedista afetado, que geralmente é dito por quem não conhece mundo algum, mesmo que viaje um montão. Descontando a afetação, lembro sim de muitas propagandas boas, criativas e divertidas feitas aqui. Porém, meu contato com televisão nesses tempos limita-se aos jogos de futebol e corridas de F1. Confesso que não sei bem a quantas anda a propaganda feita atualmente no Brasil e, num esforço, não consigo lembrar de nada particularmente bom feito recentemente. Como não fico vendo TV, posso ter passado batido.  Mas sei muito bem, pelo conteúdo que vejo, que sou alvo preferencial de um tipo de anúncio que, ano a ano, consegue bater o próprio recorde de estupidez. Sim, os infames comerciais de cerveja.

Sempre que vejo uma das novas peças, fico imaginando uma reunião da agência de publicidade - a culpada pelo que acabou de passar na tela. Uma agência dessas fodonas, dona de uma das megacontas do setor de bebidas, como a conta da (In)Ambev e suas marcas todas: Antarctica, Brahma, Skol. Ou a conta da Schincariol, agora japonesa, da Kaiser, Sol.... Cada conta dessas deve injetar um caminhão de grana nas agências, puta responsabilidade pros publicitários, necessidade de montar uma boa equipe. Então penso nos caras da criação reunidos, depois das várias etapas que uma idéia percorre até ficar pronta pra primeira exposição, os clientes na frente da tela grande, luz apagada, aperta o play. Início das propostas pra aprovação e....infalível. Tão lá:

1) as gostosonas de biquíni.
2) a molecada - todo mundo tem 20 anos - festando, sempre, na praia, churrasco, bar, balada...
3) a molecada festando sempre, falando de mulher gostosa e se comportando como quem tem 13 anos.
4) e, enfim, a cerveja da marca, pra mostrar que a molecada que fica  festando sempre pode contar com ela, pro que der e vier.

E as centenas de variações do mesmo tema. 

Será que não vai ter uma bendita agência que vai dar um chega nessas baboseiras? Ou um desses megaexecutivões, do lado dos clientes, pra dizer o óbvio: escuta, com a grana toda não dava pra fazer uma proposta melhorzinha não? Gosto de pensar que quem bebe minha cerveja não é um zumbi completamente estúpido. Não sei quem nasceu primeiro, a proposta cretina ou o cliente querendo sempre algo cretino na proposta, mas tenho certeza que uma agência que rompesse esse círculo idiotizante, com uma proposta nova, mudaria o rumo das coisas, faria a tal da diferença. Não é essa a meta dum bom publicitário? Fazer diferente?

No exemplo abaixo, ao invés de bater no peito e gritar alto como somos cretinos e adoramos ser dessa forma, a agência brinca, de forma simpática, com a imagem abobalhada dos bebedores de cerveja.


A princípio, nem parece tão diferente. Tem festa, mulheres e bebedores de cerveja abobalhados (faltou os biquínis). Mas é, no fundo, completamente diferente do que vemos aqui. Tem um detalhe chamado inteligência.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ao vencedor, o açucar.


Não importa. Tanto faz. Pouco adianta. Todas as lutas, as batalhas vencidas, o suor derramado em cada uma delas. Pra não dizer do sangue. Só não falo das lágrimas pra evitar cair de vez na cafonice do Winston - onde já estou meio atolado aqui. As derrotas, doídas, remoídas, mas, uma a uma, revertidas nas vitórias seguintes. Rumo ao gran finale, a vitória das vitórias, a batalha que define a guerra. Ou assim parecia. Não importa sua dedicação, sua confiança inabalável, a frieza nos momentos mais tensos, a precisão dos movimentos, a agilidade obtida nos anos de treinamento pesado. Tampouco fez diferença o tempo gasto lendo todas as versões de A Arte da Guerra, do Sun Tzu - comentadas por gente como o Nicolau Maquiavel, o Felipão, um executivo de vendas ou um participante dum reality show. Também não foi de grande ajuda estudar as partidas clássicas dos mestres do xadrez, o Kasparov, o Fisher, Karpov, Capablanca. O livro História das Guerras então, tava no lixo, devia ter ficado lá. Tempo que nunca mais volta. Os inimigos sim. Eles voltam. De nada serviu a criação de um complexo serviço de inteligência que prometia antever os movimentos inimigos. Na hora H, nenhum informante, cultivado ao custo de tantos agrados, informou coisa que preste. Aconteceu. Teria acontecido, mesmo se fosse tudo feito diferente.

Não se trata aqui de uma glorificação do conformismo. Uma recusa, a priori, da ação. Ninguém tá festejando a certeza da derrota, mas constatando, com alguma amargura, o que virá. Na tradição do pensamento cínico, que interpreta e tenta compreender, dispensando julgamentos morais. Ao final, do cinismo prevalece o apocalipse desesperançoso adorniano, rendido, impotente. Mas é isso. Não adianta. As formigas voltam. Pode limpar tudo direitinho, usar o mais caro produto de limpeza. Pode passar dias, meses, anos, arrastando móveis, procurando o local da infestação. Pode meter aquele veneno que promete milagres. Não adianta nada colocar o açúcar e doces em potinhos hermeticamente lacrados. Redução de danos, adiamento. Quando tudo parece placidamente resolvido, livre, elas voltam. Elas sempre voltam. Sossega. Pega lá uma latinha de cerveja. Bem gelada. Não perde tempo não.
Da série: Pensamentos em voz alta de um dono de casa.

sábado, 17 de novembro de 2012

Outros motivos

Passei um bom tempo na internet observando o que acontecia lá nos EUA. Além da importância que (ainda) tem um presidente americano, teve toda guerra retórica, sempre divertida - meio chanchada, meio tragicomédia - entre republicanos e democratas. Os debates todos (lá tem debate, aqui, com essas regras chatas, não tem) e as gafes e mais gafes dos republicanos. Relembrando, teve um pré-candidato que disse (acho que o Rick Perry), enfático, que, eleito, fecharia imediatamente três grandes agências federais. Quais? Ele esqueceu. Pegou a mesma receita do médico da Vanusa. O Romney, já debatendo com o Obama, reclamando que as forças armadas já não têm tantos navios como noutros tempos, nos anos 40. O Obama olhou pro Romeny e falou: sim governador, temos menos navios, menos cavalos, menos baionetas, as guerras mudaram. Putz, acho que foi o melhor direto que vi desde que pararam de passar boxe na TV. E o Stewart, o Colbert e o Maher tavam lá pra se aproveitar das qualidades todas dos candidatos. O Stewart, tentando entender como um panaca como o Romney conseguiu ser o candidato republicano, mostrou um vídeo com os "melhores momentos" dos outros pré-candidatos republicanos, o Grinch, o Perry e o Santorum. Páreo duro, todos muito, mas muito imbecis. Concluiu o profético Stewart, o Obama é o cara mais sortudo do mundo. O Bill Maher tirou sarro dum dos fetiches das coberturas eleitorais, os indecisos. Tinha gente seguindo esse pessoal, reunindo os caras pra ver o debate, sempre passando o idéia de que eles ainda não tinham decidido porque pensavam mais, são mais profundos. Mahler disparou: tem um cara que tá aí na presidência por quatro anos, o outro é candidato há décadas, e, faltando menos de uma semana pra eleição, depois de tudo que já foi debatido, essas pessoas ainda precisam de mais argumentos pra decidir entre um e outro? E querem me dizer que esses são os eleitores mais inteligentes?

E, não fosse motivação o bastante, teve, nas coberturas ao vivo, essa moça.


Alicia Menendez.


Parece que já trabalhou na FOX News, e com o Bill O"Reilly! Agora moveu-se à esquerda. O que não é exatamente difícil pra quem saiu da FOX, basta não entrar prum grupo ariano de supremacia branca. Passou pela MSNBC e agora vi sua cobertura (ops) no Huffington Post.


Um dos efeitos colaterais dessa cobertura no Huffington foi ficar meio disperso - e sem precisar do remédio da Vanusa e do Perry. Qual era afinal o assunto do debate que acabei de ver? Me perdi. No primeiro debate com  Romney, o Obama deve ter ficado olhando pro monitor do Huffington Post. Ficou aéreo, desligado, só faltou cantar o hino nacional brasileiro.



Alias, quem eram os candidatos mesmo? Disputavam o quê? Nada de importante. Com a Alicia apresentando, qualquer assunto fica em segundo plano. Até meu inglês precário. Tão precário que tudo que entendi e coloquei acima pode ter sido bem diferente, provavelmente o oposto. Menos a Alicia.

PS - Post feito, não por acaso, num sábado. Influência óbvia do clássico Porque hoje é sábado, no Milton Ribeiro. Pena que a Alicia não seja tão desinibida. Pelo menos que eu tenha visto.




sexta-feira, 16 de novembro de 2012

É autocrítica, estúpido?

Lá, como cá, me divirto muito com a cara de bunda dos comentaristas conservadores depois de uma derrota eleitoral. Passei esses dias vendo os vídeos dos melhores momentos da FOX News na cobertura da eleição presidencial. Eis alguns pontos altos, o the best of, só o filé:

1) Karl Rove negando a derrota de Romney, ao vivo, pra espanto até dos seus colegas de emissora - com todo mundo já dando parabéns pro Obama, reeleito naquele momento por todas as projeções. A apresentadora da FOX, diante da certeza de Rove na vitória republicana, levantou e foi na salinha falar com os estatísticos perguntar se tinham alguma duvida da derrota republicana, 99,9% de certeza um deles falou. Um parentese, como lá é uma zona total, com cada estado com um jeito próprio e uma apuração sem fim, e a decisão é no colégio eleitoral, esse negócio de projeção dos resultados é levado muito a sério, os caras viram astros, dão um monte de entrevistas. Aqui como não dá nem tempo de fazer projeção, a apuração dura meia hora, esse papel de guru fica com os caras do Ibope, Datafolha e Vox Populi - e somente antes das eleições. E o Rove ainda negando, "será um vitória republicana". A apresentadora - da FOX News! - vira pra ele e pergunta: isso confere com a realidade ou é só pros republicanos não ficarem depré? (tradução bem livre, mesmo, nem lembro o que ela disse, mas era nesse tom).

2) Bill O'Reily e Sarah Palin, apresentador e comentarista da casa, tavam lá pra explicar que a América não é mais branca - caras de velório. Sim, vão culpar os nordestinos lá também - no caso negros, latinos, asiáticos, mulheres, jovens não-brancos... Até o Sandy (o furacão) culparam, dizendo algo como caiu no colo a chance do Obama mostrar serviço, sortudo. Esquecendo-se que Bush teve o Katrina e mostrou ali, na prática, o que os republicanos querem dizer com ausência do Estado - ou danem-se os pobres. 

3) Sequência de especialistas da FOX, todos consternados, mostrando levantamentos demográficos, mais latinos, mais asiáticos, negros. Meu deus, pavor. Eles querem algo, diz O'Reily, muito abatido. Que coisa estranha não? Quem vai dar? Pergunta O"Reily. Obama, ele mesmo responde. Pois é. Autocrítica? Não, claro. Vão demonizar as minorias, que querem algo.

E aqui uma grande diferença entre lá e aqui. Jon Stewart e Stephen Colbert. Humor político ácido, engraçado e de esquerda. Sim, existe. Quem acompanha humor (ou o que classificam disso) por aqui não deve saber o que significa.  Cada um tem seu próprio modus operandi. O Stewart pega um tema e mostra as declarações dos republicanos e apresentadores da FOX, deixando que eles mesmo se exponham ao ridículo - claro que ele ajuda isso, geralmente imitando o jeitão do cidadão que falou por último e exagerando ainda mais as bizarrices ditas. Num exemplo: a apresentadora da FOX fala, casualmente, como "conseguiram" colar a imagem de pró corporações, pró ricos, em Romney. Como se isso fosse uma esperta e injusta estratégia de marketing democrata. Apenas isso. Stewart então contrapõe com um video editado com os republicanos todos dando declarações pró corporações, pró ricos. E não precisou nem falar dos tais 47% do desastroso vídeo do Romney. Colbert tem uma abordagem interessante, simula ser um típico idiota conservador, desses ultrapatrióticos - parece até o American Dad do desenho (e aqui lembra um pouco o a fórmula de ironia do nosso Professor Hariovaldo Almeida Prado, no seu blog) - pra demolir os pontos martelados pelos republicanos e a FOX News. Colbert e Stewart, além de uma ótima turma de redatores, mostram um desempenho muito bom pro tempo das piadas, quase sempre feitas sobrepondo imagens reais de reportagens e comentários do seu alvo preferencial, a FOX. Resumindo, são grandes humoristas - e usam isso pra desconstruir o discurso conservador.

Voltando a cobertura, ao final, o grande cliché explicatório da reeleição do Obama é o das tais mudanças demográficas. Nesse argumento, repetido o tempo todo na FOX News, Obama só ganhou por causa dos votos das minorias - e estas crescem ano a ano e, somadas, já ultrapassam os brancos. Não por acaso o mesmo argumento, acrítico, foi repercutido pelos repetidores de sempre daqui. O Sérgio Dávila, na Folha, usou o originalíssimo título É a demografia, estúpido - na milésima quinquagésima terceira paráfrase, neste ano, do famoso bordão "É a economia, estúpido", do James Carville (a Cantanhêde, mestre em reciclar material já aproveitado à exaustão, deve ter ficado puta com o chefe, aposto que já tinha algum artigo com algo assim, originalíssimo, no título, mas tudo bem, ela pode usar, se já não usou, agora no "julgamento do século", tipo: é o mensalão, estúpido. É o Barbosa, estúpido. É o domínio do fato, estúpido....). Não, não é a demografia, Dávila. É a adesão do candidato republicano ao discurso conservador mais tosco do Tea Party que assustou os eleitores. Exatamente como ocorreu com o candidato da Folha aqui, o Serra (e, sejamos justos com o Dávila, ele menciona isto, dizendo que lá, como cá, republicanos e tucanos ficam esperando um país que se adapte aos seus desejos, e não o oposto). As minorias não têm com Obama nenhum contrato de exclusividade, ou com os democratas, ou com o PT aqui. Os latinos, ao contrário, têm tradição de voto em republicanos. Agora se o cara do Partido Republicano prega linha dura contra imigrantes, principalmente latinos, adivinha se vai ganhar os votos deles. Até cubanos anti-castristas da Flórida votaram no Obama. O Romney defendeu abertamente o fim - ou a privatização, que dá no mesmo - das agências federais responsáveis pela defesa civil em casos de catástrofes. Vem o Sandy e Obama faz o óbvio, oferece todo apoio do governo federal às vítimas, no que recebe entusiasmados agradecimentos até de um governador republicano. Pra quem se inclinariam a votar os atingidos pelo Sandy? Pra quem votariam os negros atingidos pelo Katrina - e deixados na mão por Bush Jr.? Se o Romney e seu vice, Paul Ryan, pregam o tempo todo pros brancos "de sucesso", atacando qualquer auxílio do Estado aos cidadãos (os não tão bem-sucedidos), em quem vão votar os que recebem algum auxílio? E não são aproveitadores, como os republicanos pensam - e deixaram escapar em vídeos, são pensionistas que contribuíram a vida toda, são veteranos de guerra, pessoas com problema de saúde...E olha que o Obama deixou de fazer tanta coisa nesses quatro anos que quase conseguiu perder. Pro Romney!

E os analistas acham muito estranho que votem em Obama. Lembra, no nosso caso, aqueles tuites e posts do facebook depois da vitória da Dilma, xingando nordestinos, pedindo pra afogá-los - né Petruso. Pessoal maluco, votar em quem melhorou suas vidas e não no cara que quer tirar tudo - e ainda os chama de burros. Como os analistas tão sem idéias novas faz tempo, ficam nessa de pegar qualquer coisa e então colocam uma vírgula e acrescentam estúpido no fim. E pronto. Tá explicado. Seria até uma boa autocrítica, se a idéia fosse essa. Funciona como autocrítica involuntária, com seu onipresente estúpido no fim, ali, acusatório, olhando pra cara de quem escreveu.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Motivos nada ocultos: por que ainda ler a Folha?

Do Jânio de Freitas, na Folha:

O que quer que esteja sob o nome de mensalão não ameaçou a democracia nem o regime, como Joaquim Barbosa voltou a enfatizar. Mas é um retrato grave das complexidades deformantes que compõem o sistema e a prática da política brasileira. No seu todo adulterado e não só na particularidade de um caso tornado escândalo, contrária ao aprimoramento do regime e ao desenvolvimento da democracia. Daí que o mal denominado julgamento do mensalão merecesse um Supremo Tribunal à altura do seu significado presente e futuro. E não o que está recebendo. 

Não vi melhor definição, até aqui. Pena que o Jânio tá quase sozinho ali.

Da série o que dizem e o que deveriam dizer

Palavra: polêmica

O que deveria dizer: é quase uma arte onde o artista é o polemista, a pessoa que, por argumentos, provoca um debate. O polemista lança conceitos inéditos ou insuficientemente explorados até então, sai do convencional e, ao provocar, cria um ambiente intelectualmente ativo, exigindo respostas criativas, causando controvérsias que, numa perspectiva dialética, são capazes de descontruir um tema pra que o assunto ressurja com outra face, mais profunda, complexa. Uma complexidade que resulta natural de uma ação polêmica saudável e bem construída. São muitos os exemplos de grandes polemistas que engrandeceram o pensamento com a exposição de suas idéias - e defendendo-as dos ataques de polemistas do campo oposto. Edmund Burke combatendo as idéias da Revolução Francesa. Karl Marx apontando as contradições do capitalismo, Raymond Aron criticando, por sua vez, o marxismo. A filósofa judia Hannah Arendt discordando do papel das liderenças judaicas na Alemanha nazista, entrando em choque com muitos de seus amigos até o fim da vida. Mais recentemente temos Christopher Hitchens e seu julgamento de Henry Kissinger por "crimes de guerra". Depois o mesmo Hitchens defendendo as invasões de Bush Jr. ao Iraque e Afeganistão. Novamente Hitchens, agora junto com Richard Dawkins em suas defesas do ateísmo, criticando as diversas religiões. Por aqui, Nelson Rodrigues escandalizando as esquerdas com seu reacionarismo assumido e, ao mesmo tempo, expondo em crônicas e peças de teatro as hipocrisias (e patologias) da família burguesa tradicional. Maria Sylvia de Carvalho Franco e Alfredo Bosi falando que as idéias estão no lugar, em oposição ao famoso diagnóstico de Roberto Schwarz de que as idéias estão fora do lugar - em alusão à adoção de idéias liberais por uma elite que permanecia escravocrata. E por aí vai. Em comum, mesmo em lados opostos, todos, pela polêmica, mobilizaram um imenso conteúdo cultura pra acrescentar algo ao mundo das idéias - e influir no mundo real.

O que diz: hoje em dia qualquer imbecilidade sem nexo dita por uma das subcelebridades do momento (do dia, porque ontem era uma diferente e amanhã será outra) ou um jogador de futebol é tratada nos portais de notícias como polêmica. Assim se uma idiota posta uma foto posando de gostosa em meio a destruição do furacão Sandy, a idiota é chamada de polêmica - e consegue aparerecer em tudo quanto é notícia. Dia ganho, diria Dirty Harry. Um jogador de futebol ofende alguém com uma das dancinhas ridículas - que agora é moda pra comemerar um gol, isso é polêmica. Um cara no Big Brother amassa uma das minas, polêmica. E o pior é que essas figuras se anunciam publicamente como polêmicos, com orgulho.

Por que desconfiar: Os polêmicos da moda só são mantidos pelo atual estágio do jornalismo, que vive de polêmicas vazias, sem idéias, sem cultura, sem acrescentar nada. Enfim, sem polêmica (a que deveria ser). Ao tentar trazer a agilidade da internet pros seus portais, optou-se por atrair o leitor mais superficial, que não quer ler nada longo e complexo, quer é ver notícias dos famosos polêmicos. Se a famosa tiver se descuidado e, acidentalmente, pela vigésima quinta vez neste ano, mostrar algo a mais prum fotógrafo que, por sorte, passava por perto, também pela vigésima quinta vez, melhor. Polêmica, vão dizer. Basta ver os destaques, as notícias mais lidas. E este tipo de cobertura já não é mais exclusivo dos portais, o mesmo padrão domina as versões impressas e eletrônicas dos jornais, com analistas políticos dignos do TV Fama. Ahh, ficar gritando petralha, petralha não faz alguém virar um polemista, faz virar papagaio do patrão.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Tentativa e erro

Depois de muitos anos resolvi dar uma chance pra Globonews e acompanhar a apuração da eleição americana no canal. Liguei. Vamos lá. No vídeo, de cara, o Demetrio Magnoli analisava o cenário. Desanimei. Piorou. Lucas Mendes, Caio Blinder e Diogo Mainardi faziam piadinhas lá dos EUA. Acho que eram piadas, já que não paravam de rir. Acho que era dos EUA, já que do Brasil esse povo quer distância. Mas não esperei pra descobrir, aguentei uns 40 segundos e o meu corpo me obrigou a desligar a TV e voltar ao que tenho feito, assistir na internet.

Realmente não dá mais. Sei que é um clichezão esquerdista, mas Globo, Veja, Folha, Estadão, RBS, são, de fato, a mesma coisa, as mesmas pessoas, as mesmas opiniões, a mesma estupidez. Não tem nem mesmo um projeto-novo-de-Paulo-Francis mais recente, só os mesmos projeto-novo-de-Paulo-Francis já envelhecidos pela caduquice das idéias. O Jabor, o Marco Antonio Villa e o Merval deviam tá na fila pra animar o debate. E o Fiúza na reserva, louco pra entar em campo. E ainda tem a Renata Lo Prete, a Cantanhêde, repetindo na Globonews o que repetem todo dia na Folha, mensalao, mensalão. Aquelas caras de pessoas sofisticadas, que acham bonito Obama e democratas lá no norte, e aqui tem nojo de pobre. E raiva de quem combate a pobreza. Chega. Fui.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Palavras, o que dizem e o que deveriam dizer.


Palavra: Empreendedor.

O que diz:
Pessoa ousada e criativa, que se arrisca, larga o emprego e a segurança da carteira assinada pra virar "patrão" e ficar milionário.

O que deveria dizer:
A melhor maneira de retirar completamente os diretos trabalhistas, as conquistas todas de décadas de lutas dos trabalhadores e obrigar todo mundo a virar pessoa jurídica. E ainda fazer parecer que tudo isso é bom. Pior, quem não aceitar é porque é muito acomodado, não tem ousadia, criatividade, não quer ficar rico. Perfeito. Pros donos da grana.

A mágica (também chamada armadilha ideológica):
Pega-se meia dúzia de exemplos de pessoas que ficaram realmente ricas com uma boa idéia e alguma sorte e transforma-se isso em regra - com um nome: empreendedorismo - quando é claramente uma exceção. Coloca-se essa meia dúzia nas capas das revistas, entrevista um ou outro volta e meia na TV, mostrando sua vida de gente rica, pra ficar martelando na cabeça do vendedor da loja, do bancário, do professor: fique rico, é fácil. Enquanto isso milhões de pessoas, sem carteira e com CNPJ na mão, vão ficar disponíveis pras empresas através de contratos cada vez mais vantajosos, pras empresas, claro. 

Por que desconfiar:
Tá todo mundo falando pra você virar empreededor - e assim ficar rico. Quem fala isso é dono de mega empresa, de jornal, televisão...ou seja, gente muito rica. Você realmente acha que essa gente muito rica quer que mais gente pobre fique tão rica quanto eles? Não vai acontecer. Eles querem continuar ricos ou ficar mais ricos - pagando menos pros trabalhadores, agora empreendedores, que têm de se virar pra pagar todos os encargos de pessoa jurídica. Plano de saúde, jornada de trabalho, hora extra, vale alimentação e transporte? Anacrônicos. Coisa de vagabundo (o termo correto pros não-empreendedores). Te vira mermão. 


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

MORTOS e mortos

Dando uma passada de olho na Folha de domingo, encontrei um artigo do João Paulo Charleaux muito claro sobre as diferenças de tratamento na mídia brasileira das catástrofes lá fora - pra não dizer puxasaquismo tosco e preguiçoso (isso é meu, não do Charleaux). Ele mostra que o furação Sandy matou quase setenta pessoas no Caribe antes de chegar nos EUA - e ninguém falou disso na imprensa daqui. Chegando nos EUA, só deu Sandy nos nossos jornais. Charleaux cita uma antiga piada de redação pra ilustrar a diferença de pesos na cobertura: um americano assustado equivale a uns 40 centro-americanos mortos ou uns 50 corpos africanos e por aí vai. 

Lembro que depois dos atentados de 2001 algumas cartas com pó branco assustavam muita gente nos states. Poucas dessas cartas continham realmente o antrax, que podia mesmo provocar a morte de quem tinha contato com a carta. Após a segunda morte (de um total de 5 ou 6) imprensa e políticos já cobravam a quebra da patente do remédio pra tratar do antrax. Justo, sem dúvida. O problema é que enquanto isso milhões morrem todos os anos nos países pobres por doenças como Aids, malária, chagas, dengue, tuberculose.... e o governo norte-americano sempre se opôs duramente contra qualquer tentativa de quebrar patente pra reduzir os custos com o tratamento dessa doenças. Nessa conta, um norte-americano morto por antrax é mais importante que milhares de africanos, latinos e asiáticos mortos por doenças da pobreza. E essa diferença na balança de pesos de vidas não parece escandalizar a imprensa em lugar nenhum. Americano morrer é tragédia. Pobre morrer é da vida, acontece.

Outra coisa notada pelo colunista é o jornalismo pautado pelo que interessa lá, não aqui - não produzimos aqui conteúdo, apenas replicamos o que nos EUA se entende como prioridade. É o popular jornalismo colonizado, que ainda atende as ordens dos colonizadores. Entre tantos e tantos exemplos dessa postura servil, lembro da cara embasbacada do William Waack entrando num porta aviões norte-americano ancorado no litoral brasileiro. Parecia um criança entrando na Disney, deslumbrado, sem saber direito pra onde olhar. Metido a historiador militar, o apresentador do jornal noturno da Globo deve ter sentido espasmos de emoções com a força das armas ali dentro. Parecia qualquer coisa menos um jornalista brasileiro entrando numa imensa arma de guerra extremamente poderosa (na verdade mais poderosa do que nosso poderio militar inteiro) e enviada pra nossas águas - olha só - logo depois das descobertas de petróleo no pré-sal.

Falando em pesos e medidas, quer o Waack, a Globo, Veja e Folha queiram ou não, quem acompanha publicações internacionais sabe que o peso do Brasil agora é muito maior. Isto pode ser bom, pode ser ruim. Eu mesmo não tenho saco pra essa obsessão com uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, mas é fato que o país vai ficar mais próximo das questões que movem a política nos quatro cantos do planeta. Isso pediria jornalistas dispostos a aprofundar a crise Israel-Irã, o avanço da China, o imbróglio todo Afeganistão-Paquistão-AlQaeda, a tirada do Lugo no Paraguai.... e isto do nosso ponto de vista, não do ponto de vista do Departamento de Estado dos EUA, como tem sido até aqui. Quanto mais rápido o Brasil cresce em importância no cenário global, mais visível fica essa pobreza mental do jornalismo servil. E vai ser duro formar uma geração nova de jornalistas que entenda essa mudança no papel do país. Tá tudo dominado, como diria o filósofo do Bope.

domingo, 4 de novembro de 2012

Como funciona parte 2: Igreja

 "eu vejo o Serra"

Do mesmo jeito que zumbis, vampiros, fantasmas, lobisomens, sacis, malufs e outras tantas criaturas folclóricas, as religiões são fundadas em alguma forma de lendas e mitos formadores. Geralmente juntando um monte de histórias que vagavam por aí, escolhendo uma figura central e colocando tudo num único livro sagrado - fazendo os ajustes necessários pra dar um conjunto moralista que determina o que os mortais podem ou não fazer. Como os monstros, as igrejas tentam dar conta do desconhecido, geralmente apostando nos medos primitivos - fogo, inferno, danação eterna, literatura de autoajuda, sertanejo universitário, programa do Luciano Huck - pra tentar botar o povo na linha. Amor, respeito e caridade são conversa pra boi tatá dormir, basta uma olhadinha em qualquer religião importante pra revelar muito  pouco desse negócio de amor e respeito e muito do oposto.

Como qualquer debate primitivo, nas igrejas ou ajoelha e reza pelo meu livro, que é o único certo (feito por deus, não por Steve Jobs, ainda) ou a coisa vai ficar feia pro lado do herege. E olha que o mesmo livro sagrado pode servir a duas ou mais igrejas - ou partes do mesmo livro, ou trechos, ou um personagem.

Esse quiprocó todo, além da razão funcional de controle do comportamento social dos fiéis, serve também pra disfarçar o óbvio: não tem ninguém, nenhuma criatura, nenhum ser que tudo sabe, tudo vê e tudo pode lá em cima, lá embaixo ou dentro de uma garrafa.  Não tem nenhuma figura sobrenatural que faça as coisas por mim ou em quem eu possa botar a culpa pelas merdas todas que eu faço. Tô sozinho nessa e tenho que construir minhas próprias relações de amizade e respeito. E tenho de aprender a pensar por conta própria. Essa constatação da solidão e a decorrente necessidade de se virar - a responsabilidade, é o verdadeiro pavor do ser humano que corre pras igrejas todas. Lobisomens, fantasmas, vampiros, malufs e zumbis não são nadica perto da certeza de ter que se responsabilizar pelas próprias ações, pelas escolhas feitas, sem culpar alguma entidade, carregando um dos livros sagrados debaixo do braço como garantia de qualquer coisa.  

Até aí, cada um por si e se o cara se sente melhor achando que deus, papai noel, um ET ou outra lenda qualquer tá aí olhando por ele, protegendo sua família, dando vitórias pro seu time, cuidando do rendimento da sua poupança e ajudando a escolher um carro melhor pra comprar, problema dele. Quando o troço vira - como sempre vira - uma caça as bruxas, do tipo que persegue e pune quem não "respeita" o meu deus, o meu ET, não veste as coisas que o livro de mais de mil anos manda ou se recusa a levantar na hora da leitura dum trecho do sagrado livro de fantasia, a coisa muda. Já deixa de ser opção dum idiota que deixa uma lenda controlar sua vida e vira questão de política pública.

Tá meio viciado esse debate onde todo mundo pede respeito às diversas crenças enquanto as diversas crenças não respeitam nada - muito menos a inteligência. Por aqui temos basicamente católicos e evangélicos apitando, numa espécie de disputa pelo monopólio da estupidez. As duas igrejas têm razoável influência no congresso pra mudar ou impedir leis - e amplo espaço nos meios de comunicação (antes eram quase monopólio católico, agora são cada vez mais evangélicos, assim como a população como um todo) pra ficar dizendo e redizendo as lorotas todas que a CNBB, o padre Marcelo, o Edir Macedo e o Malafaia adoram.

Apoiada com gosto por políticos conservadores e de partidos supostamente de esquerda, a política de igreja tem tomado espaço dos debates que realmente importam - e aqui o exemplo clássico do uso de preservativos pra prevenir a Aids. Ao invés de focar em como combater e prevenir a doença, gasta-se tempo e recursos tratando da postura do Vaticano contra o uso de preservativos. E pessoas pegam e morrem da doença enquanto isso. Direito ao aborto? Neca, salta um versículo do livro de mitologias pra mostrar que não pode, que a mulher não tem direito. Nos EUA republicanos contra o aborto afirmaram no congresso que, no caso de mulheres estupradas, "deus quis assim". Ou, melhor ainda, um republicano falou que se o estupro for "legítimo", a mulher não engravida. Crianças que nascem sem cérebro, o que fazer? Vai lá ler no livro. Casamento gay, putz, olha só o que aconteceu em Sodoma e Gomorra. Se deus existe mesmo e curte coisas como republicanos, malafaias e igrejas de modo geral - e nos criou à sua imagem, essa imagem é a de um idiota perfeito. Como deus não existe, a criação do idiota perfeito é por nossa conta. E só nossa.

Só pra mostrar um pouquinho como uma igreja entende conceitos como justiça e respeito, na Inglaterra um ex-apresentador da BBC e um dos mitos da TV por lá, o Jimmy Savile, morto em 2011 aos 84 anos, foi denunciado por abusar de umas 300 meninas num período de mais ou menos 40 anos. E já não é apenas acusação, mas processo, com mais de uma centena de denúncias das vítimas do cara, incluindo parentes. E mais denúncias aparecendo todo dia. Acontece que a figura, como de habito, tinha um grande "trabalho pra caridade", décadas de "dedicação", zilhões doados, filantrópico, empreendedor social...a receita de sempre. E recebeu por isso todo tipo de bajulação da família real britânica, como o título de Sir, além das amizades com príncipes e ídolos pop e essas coisas todas. Lógico que o Vaticano também premiou o cidadão com um título, foi nomeado Cavaleiro Comandante de São Gregório o Grande pelo papa João Paulo 2º em 1990 por "seus trabalhos de caridade". Descoberta a história terrível destes abusos a coisa ferveu e querem saber por que a BBC demorou pra mostrar uma reportagem já pronta que apontava os crimes do Savile.  O chefão da BBC até ano passado, Mark Thompson, é o atual editor chefe do jornal The New York Times e parece que ele ajudou a abafar o caso. Agora a ombudsman do NYT tá no pescoço do Thompson, pedindo explicações do por quê da não exibição na BBC das denúncias. Enquanto isso no mundo fantástico do Vaticano,  a Igreja Católica da Inglaterra - também castigada por denúncias de casos de pedofilia - pediu pra revogar o título dado pelo papa. Normal, tentativa de dar uma aliviada nessa mancha grande dos católicos com pedofilia. Certo? Claro que o Vaticano negou, e pros católicos um cara que aterrorizou sexualmente centenas de pessoas continua merecendo a homenagem de São Gregório o Grande. Daqui uns 800 anos eles revisam isso. Então, pra resumir, uma igreja encobre por décadas (séculos) casos de abusos de seus padres pedófilos - não um ou dois casos, mas milhares. Dá um título em homenagem a um figurão que também é acusado de centenas de casos de pedofilia e nada faz pra reverter a homenagem. E essa igreja ainda acha muito normal sair por aí dizendo que está do lado do amor e da caridade. Vá contar isso pras crianças abusadas e suas famílias.

Noutra igreja - uma das evangélicas que não para de crescer - seu figurão mor aparece num vídeo, desses típicos de subgerentes de vendas do shoptime (compre, compre, compre), cobrando de seus coletores pastores mais empenho nas técnicas pra arrancar mais e mais dinheiro dos fiéis. Todo mundo fica puto? Não, os evangélicos dão mais grana pra mostrar sua fé, o cara fica muito mais rico e compra uma grande emissora de TV pra ensinar mais gente a roubar coletar mais grana pras causas de deus/jesus/mansões no exterior. E de quebra aumentar ainda mais a oferta de realitys e outros programas imbecis na televisão brasileira.

E é esse povo, os chefes das igrejas e seus zumbis seguidores, que quer se meter na vida de todo mundo, dizer o que é certo ou errado, o que pode ou não. Querem pautar uma eleição, tirando da conversa discussões "menores", como saúde, educação, transporte, estrutura, segurança, pra ficar nos kit gay, anti-aborto, anti-drogas, anti-pensar. Esse é o tamanho do debate público das igrejas - e é pequeno e tosco. Entregar decisões da vida pública prum padre ou pastor é meio como pedir pro Hannibal Lecter cuidar dum bebê enquanto dá uma saidinha e já volta.

 "pode deixar que eu cuido da criança.  Por acaso você tem um bom vinho e um azeite extra virgem em casa?"

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Motivações ocultas

Poderia citar uma dúzia de razões pra ver a série The Walking Dead. Começando com uma certa fixação pelo tema zumbis - que deixaria Lacan meio cabreiro. Gosto também do Frank Darabont, que dirigiu o piloto e produzia a série até a segunda temporada. Agora, na terceira temporada, justo no momento que tudo se passa num presídio, o Darabont (que dirigiu À espera de um milagre e Um sonho de liberdade, dois clássicos de prisão) caiu fora ou foi tirado. Aliás, um parentese, quando o George Lucas anunciou que tinha recusado duas propostas de roteiros do Darabont pro novo Indiana (esse da caveira de cristal) e assumido a história, dava pra prever a tragédia.

Além dos zumbis, gosto também do tal futuro apocalíptico. Talvez porque acho que estamos indo por aí mesmo, mesmo sem os zumbis - o que é uma pena (a ausência dos zumbis, não o apocalipse, esse é merecidão). Mad Max, A estrada e os filmes do George Romero deixaram sequelas, admito.

Mas a verdade nua e crua - aqui bem mais crua do que nua - é que quando a coisa tava meio sonolenta na segunda temporada, com os sobreviventes numa espécie de hotel fazenda, longe dos zumbis e discutindo relação, eis o que mantinha minha fidelidade:


Depois de uma temporada e pouco nem sei o nome do personagem ou da atriz. Deu trabalho procurar a foto. E as coisas começaram diferente nessa terceira temporada, com zumbis a rodo, nem precisaria de motivações adicionais, mas cada vez que aparece essa moça aí mais eu renovo minha fé num futuro apocalíptico. Com zumbis e, principalmente, com ela.
Aqui a moça em ação, prontinha pra encarar mortos-vivos. Sai da frente Serra.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Topo e base

Um partido ou coalizão de partidos que governa do topo e para o topo - grosso modo os 10% mais ricos mais uns 20% de classe média bem alta (incluindo aí os colunistas da imprensa) - vai, necessariamente, tornar a vida de 70% da população muito pior. Com o tempo os 30% do topo, mesmo beneficiados, vão ser obrigados a se refugiar em ilhas de proteção, mega condomínios fechados, veículos blindados, escolas particulares ultra caras, shoppings de luxo, segurança privada.... Esse cenário, claro, não é novidade no Brasil, tem sido o padrão dos diversos governos e partidos. Foi a opção clara de governo do PSDB de Fernando Henrique Cardoso e seu principal aliado, a Arena/PFL/DEM. 

Além de um governo pros amigos, os ricos, tem aqui uma teoria política que diz que um governo deve ajudar os mais ricos e assim eles - os ricos - vão puxar o crescimento dos demais. Conversa fiada, claro. Beneficiada por reduções de impostos (ou olhos pouco rigorosos do leão da receita) e juros altos, a elite se aproveita pra aumentar os investimentos sim - mas não na produção, gerando empregos, mas no consumo de luxo, nas viagens pra Europa/EUA, nos carros importados caríssimos, e isso gera muito pouco de emprego ou recursos aqui pro Brasil. Isso tudo parece bastante óbvio, mas não é o que se costuma ver pelas explicações dos analistas de sempre, os que defendem e vão continuar defendendo as políticas que privilegiam os mais ricos - e jurando de morte quem tentar se meter nisso.

Lula se meteu e mudou isso no final do primeiro mandato. Com todos os problemas do Partido dos Trabalhadores, seu governo mudou a direção da bússula e passou a tratar dos 70% sempre deixados pra escanteio no país.  Com um conjunto de ações, como o bolsa família, aumento do salário mínimo, os programas como o minha casa minha vida e outros tantos, Lula colocou milhões de brasileiros, que antes não tinham condições pra comprar nada, agora incluídos na chamada nova classe média, classe C - e com isso movimentou a economia interna enquanto lá fora o mundo caia em crise. Não é por acaso que nos governos do PSDB o Brasil entrava no furacão quando uma marolinha aparecia lá longe, na Ásia. Governando para o topo o país não criava um mercado interno, dependento sempre lá de fora pra quase tudo. Lula inverteu isso e o furacão da crise lá fora resultou na marolinha aqui dentro (e não vi  ninguém da imprensa reconhecendo o erro quando Lula falou isso no começo da crise). 

Governando também pros 70% mais pobres o PT melhorou a vida de 100% dos brasileiros. Ou quase, tem muita gente lá no topo que não gostou de ver pobre melhorando de vida - e nunca vai gostar.  E olha que Lula nunca mexeu com esses 30% no topo, manteve os juros altos, continuou sustentando os grandes grupos de mídia, deixou a Veja falar todas as merdas de sempre.

Esse é o ponto importante - a melhora do país inteiro a partir do cuidado com a população mais necessitada -  e é o que escapa das pessoas que lotam as caixas de e-mail com campanhas tolas contra o bolsa família, Prouni, cotas e qualquer auxílio do governo aos mais pobres. Se não me engano o Jornal Nacional mostrou como denúncia uma família que recebe uma bolsa auxílio comprando geladeira e fogão, tipo vê se pode, folgados. Nunca vão entender nada. Quem entendeu foi o metalúrgico semianalfabeto, não o doutor em sociologia. Lula fez exatamente o que o intelectual FHC sabia que tinha que ser feito prum governo social democrata, mas não teve coragem de fazer. Ficou preso nos limites de classe (diria o Lukács),  nos estigmas da elite incapaz de olhar pros mais pobres.

Além disso vai ser preciso que se passem algumas gerações, mantido o caminho de justiça social, pra que os muros que dividem o mundo dos ricos e pobres comecem a cair de verdade e que a violência finalmente diminua - numa sociedade, vamos lembrar, fundada pela injustiça da escravidão, depois na miséria da maior parte de seus cidadãos e da violência em todos os lados.

Vai demorar, mas pelo menos começou. E quase ninguém da Folha, Globo ou Estadão vai tratar disso. Vão continuar tentando derrotar o cara como se a questão toda fosse o Lula e apenas isso. Lula e o PT cometeram muitos erros, mas governar pros 70% da base e não somente pros 30% do topo tá longe de ser um deles.

PS - Um dos erros do Lula e do PT é não deixar claro pra população que um governo que trabalhe pros 70% da base é um governo de esquerda, enquanto um governo que fica só no topo, com seus 30%, é de direita. Essa é uma das grandes diferenças entre esquerda e direita e ao não deixar isso evidente o PT corre o risco de ver a coisa personificada no Lula. Ou seja, outro cara, mesmo de um partido de direita, poderia fazer também. Sei dos problemas "marqueteiros" com o uso e os significados de termos como esquerda e direita. Sei do peso que carregam e que o eleitor não tá muito disposto a esse debate. Mas fugir dele, como até aqui tem fugido o PT, é correr o risco dum direitoso falar pro povo que vai fazer igual ao Lula, pra depois devolver tudo pros 30% do topo. Olha o susto com o Russomano aí.



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Como funciona parte 1: zumbis


Não, não é autoajuda pro elenco do The Walking Dead. Nem sei bem como qualquer coisa funciona, mas como todo mundo tenho meus palpites, incluindo aí sobre como nascem os zumbis - além das mordidas infeccionadas. Vamos lá: um candidato manjado, desses que disputam toda eleição desde o nascimento da democracia grega, vinha duma derrota no segundo turno pra presidente, tá agora com mais de 50% de rejeição do eleitorado de São Paulo. Muita coisa errada o cara fez, certo? Se botar nessa conta o apoio acrítico e entusiasmado de quase todos os que se acham formadores de opinião, põe coisa errada nisso pra alimentar tanta antipatia, mesmo com uma exposição, vamos dizer, amigável (dentro do possível pra figura, que não é muito simpática) nos meios de comunicação. Por mais medíocres que sejam, os analistas da grande imprensa, esses mesmos que ficaram na moita até aqui esperando o resultado da campanha suja do candidato, agora apontam, cheios da razão e da autoridade, com ar de eu já sabia, que a adesão do tal candidato às coisas da extrema direita não pegou bem num eleitorado que, mesmo conservador na maior parte, não quer ficar escutando baboseiras preconceituosas ou deixar religião conduzir o debate o tempo todo numa campanha duma cidade que está na merda.

Veja bem, não quer dizer que esse eleitor não ache um erro fazer um material que trate de homossexualismo pra ser distribuido nas escolas, pras "nossas crianças",  ou que ele seja a favor do aborto, da união civil de pessoas do mesmo sexo....Pode até concordar com os religiosos que vivem martelando contra essas coisas, mas ele não acha esse tipo de coisa o tema principal duma eleição quando ele não consegue se locomover dentro da cidade, seja de ônibus ou de carro, quando ele se sente ameçado dia e noite por bandidos e pela polícia, quando não consegue atendimento na rede pública de saúde. E começa a ficar meio de saco cheio dum cara que só aparece falando mensalão, mensalão. Tirando meio dúzia de cabeças privilegiadas, como o próprio candidato, a pequena sônia (ela não era adversária?) e um cara da veja, é meio que consenso que as escolhas de pauta e a postura do cara não foram felizes. Bom, com tanta rejeição, na verdade as escolhas foram uma porcaria mesmo - e, pra piorar mais a coisa toda, repetiram as mesmas escolhas da derrota anterior pra presidente. No mundo real, dos vivos, o papo furado não cola - ou pelo menos não cola tanto quanto seria necessário pruma eleição majoritária. É uma pauta de candidato a vereador ou deputado.


 O candidato do PSDB a prefeitura/governo/presidência de alguma coisa.

Já na campanha de 2010 o cérebro do candidato mostrava todos os sinais da prolongada ausência de oxigênio e o tecido morto começava a tomar o lugar do tecido vivo.  O que se dizia dele, economista conceituado, administrador experiente, desenvolvimentista, não batia com o que ele falava ou fazia na prefeitura ou no governo do estado. O que se viu foi polícia dando porrada em todo mundo, principalmente em pobre e estudante (estudante pobre então, sifu). E só. A única argumentação exposta pelo cara da "biografia" era "trololó petista" como explicação ou resposta pra qualquer sinuca de bico. O sintoma mais claro de que a vida como conhecemos já se ausentava ali era a sindrome de biruta de aeroporto. O cara vinha caminhando pra lá e pra cá conforme o vento, sem idéias novas, sem programa, procurando um cérebro pra devorar, num típico zumbi dos filmes do Romero. E procurando cérebro pra devorar não é apenas figura de linguagem, mas o modo de conduta dos ultracons que cercam o zumbi. Sempre raivosos, querendo sangue, olhos atentos procurando sinal de vida inteligente pra atacar. Talvez tentando, com isso, dar vida aos próprios registros de atividade cerebral já apenas no traço do eletro.

É o Serra ou Zé? Defende o que aí está na cidade mas se ausenta sempre que a coisa fica feia. Fala mensalão, mensalão, mensalão, mas ataca quem tocar no assunto mensalão do seu partido. Vai na parada gay mas se deixa apoiar por renomados homofóbicos como o Silas Malafaia. Xinga o que chama de kit gay do Haddad embora tenha lançado um quase igual. Nunca mostrou ser particularmente religioso e agora abraça com fervor tudo quanto é padre e pastor. Critíca o aborto e, como é típico da elite, sua mulher fez. Se coloca sempre no papel de vítima de baixarias enquanto sustenta sites pra difamar adversários (incluindo aí mentiras sobre cancelamento de Enem ou propostas de aumento de tarifas num site falso simulando ser da campanha da Haddad). Até a FOX News, A FOX NEWS, cobra do candidato republicano quando a coisa é muito descarada. Aqui não. Silêncio, grilos ao fundo. É exatamente esse tipo de véu que protege Serra (e o PSDB) que ajuda a entender (daí o titulo pretencioso do post) os motivos deste candidato continuar "prestigiado", dos tucanos não se renovarem - bom lembrar que havia um processo de prévias tucanas pra escolha do candidato a prefeito que foi destruído por Serra com aplausos gerais da imprensa. E assim o morto-vivo continua mandando.

O fraquíssimo Fernando Rodrigues, da Folha, deu a dica de como se processa a armadilha ideológica que sustenta os mortos-vivos. Em sua coluna, já com a vaca do seu candidato atolada até o chifre no brejo, reclama da baixaria. Tudo bem, tem razão mesmo. Mas reclama da baixaria dos dois candidatos, e põe o Malafaia no meio, como se fosse coisa dos dois - quando um respondia aos ataques do Malafaia. Além de desonesto é, como aliás tem sido o caminho da Folha, apostar na estupidez geral. Se um candidato tem mais de 50% de rejeição e tá quase todo mundo mostrando que as opções deste canditado pela baixaria não produziram resultado (incluindo aí o Fernando Henrique Cardoso - que também convenientemente espera bastante pra dar esse típo de diagnóstico) não dá prum analista colocar essa baixaria na conta dos demais candidatos. É falsear os fatos, dar salvo conduto pra campanhas feitas só de ataques tolos e propostas zero.

A ombudsman da Folha pede que os jornalistas não se pautem pelos marqueteiros - e ficar tratando de bobagens o tempo todo, deixando de lado as questões graves da cidade. Tarde demais dona. Os colunistas da Folha (não só, mas são os que ainda aparecem no meu computador) já não sabem falar nada diferente do padrão marqueteiro. Não é apenas complô, o tal PIG, mas é parte da formação dos jornalistas e de outros profissionais confundir propagando com fatos, como torcedor que se recusa a ver os defeitos do seu time e, em contrapartida, aceitar na boa tudo que o favorece, incluindo penalti roubado. Propaganda e jornalismo têm muita coisa em comum, partilham técnicas e ferramentas de comunicação e partilham também cada vez mais o mesmo espaço e a necessidade de agradar os donos do dinheiro que ainda mantém os jornais na ativa. Isto, claro, não é de hoje e vem atuando na formação e seleção dos "melhores" currículos pelas chefias de redação, estes que ganham espaço e importância nas coberturas de imprensa com análises sem profundidade, rasteiras mesmo, com preguiça de cultura (essa tal erudição que pra muitos só toma tempo do que importa mesmo, dinheiro) mas que contam pontos preciosos com os "de cima". Não dona Singer, mantido esse padrão de cobertura e nível de jornalismo não dá mais pra separar jornalista de marqueteiro. A finalidade é a mesma, vender algo.

Uma imprensa com um pouquinho só de dignidade, pra não dizer inteligência e algum, nem precisa muito não, espírito crítico, já teria decepado a cabeça do morto-vivo muito antes pela sua absoluta falta de sucesso em se comunicar com o mundo dos vivos. E isto não seria nenhum passo à esquerda, mas o contrário, é liberar um pouco de oxigênio pros pássaros bicudos respirarem e não transformar tudo em zumbi como tão fazendo. Não tenho nenhum interesse em dar receitas pra direita (até por que ela tá bem viva, apenas fora do poder formal no planalto, mas longe de não ser hegemônica), mas com essa cobertura engana-trouxa montada pra classe média mais imbecil (ou assinante/sócio/torcedor) que a imprensa se especializou (ou fez um MBA, na linguagem da moda) - vide mensalão - tá duro de ver alguém com aparência saudável nos lados do PSDB. E olhando o nome minas-leblon que se propõe pro lugar até aqui cativo do zumbi, tá mais pra candidato de reallity do tipo rehab do que político sério. Vão ter que criar um novo kit zumbi pra sustentar mais um candidato que, por si só, não para em pé (diferente dos postes).

Resumindo, em números, desses que afetam a vida dos vivos (como emprego, aumento do salário, moradia) o Brasil tá melhor do que estava antes de Lula. Isso é um dado concreto (IBGE, Dieese), goste-se ou não. Pode ser com algum mérito do FHC, pouco mérito do FHC (tô nessa), mas ao invés de pensar em como melhorar ainda mais esses números e, em consequência, a vida dos vivos, a joint venture entre partidos de oposição e imprensa fica exclusivamente (e exaustivamente) dedicada a promover e sustentar zumbis, combatendo exatamente os fatores (como queda dos juros, fortalecimento das empresas estatais e programas de redução de pobreza) que ajudaram a construir esses números melhores. É a política feita por e para zumbis, que descaracteriza e ataca a vida - e a tragédia de Pinheirinho tá aí pra mostrar como funciona. São estes zumbis que diante da complexidade duma disputa política com um governo muito bem avaliado, só sabem berrar petralhas, petralhas (e agora mensalão, mensalão). Acho que o cérebro já foi comido faz tempo.

PS - Acabei de ler um texto muito bom do Paulo Moreira Leite - outro dos raros que mostra-se mais interessado em compreender do que escolher um lado e ficar martelando pensamentos prontos - que fala dessas generalizações cheias de interesse da imprensa quando seu candidato perde. Ele pega as conclusões apressadas dos analistas a partir dos números altos de votos brancos e nulos em SP. Diz a ladainha destes analistas que isso mostra uma falha da nossa democracia, problemas de representatividade, questionam a apatia do eleitor, pedem mudanças....só porque perderam. O Paulo Moreira Leite mostra que ninguém no comité do Haddad tá reclamando da democracia. O problema é que o Serra não empolgou, não conseguiu os votos que precisava. A apatia foi dos eleitores do Serra que não queriam votar no PT mas  não aguentam mais o zumbi. O problema é do Serra, do PSDB e de seus apoiadores ultracons na imprensa, não da democracia.

PS 2 - Manchete do Uol no day after da derrota do Serra pro Haddad: Em discurso, Serra mostra disposição, analisa Josias. E vamos nós. Pega lá o kit zumbi Josias.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Tiririca na cabeça do Fiúza

Confesso que nunca fui muito com a cara do escritor Guilherme Fiúza. Quando do lançamento do filme Meu Nome Não é Johnny (o livro é dele) o cara apareceu aqui e ali, incluindo a invasão bem sem sal em alguns dos meus sagrados programas filosóficos preferidos - conhecidos pelos demais mortais como mesas redondas de futebol. Sempre aquele arzinho blasé de quem faz muita força pra falar com os outros, os não abençoados com seu brilho intelectual. Nem sabia que era desses ultracons, mas dava toda pinta e mantive distância segura desde então. Agora soube que escreve as tolices usuais do nosso tosco conservadorismo na revista Época (esses ultracons sempre encontram abrigo nas Organizações Globo, coitado do Paulo Moreira Leite), daquelas que os donos de tudo sempre falam quando os eleitores votam em quem melhora suas vidas e não em quem eles mandam votar.  Como não acompanho as colunas do moço, não dá pra cravar muita coisa, mas li a coluna recente onde ele agride os eleitores de São Paulo por votar no Haddad, chama de palhaçada, termo dele, comparando ao voto no Tiririca. No mais a coluna é um desfile de argumentos daqueles de cientista político de facebook - a privatização da telefonia foi boa pra todas as classes e com o PT nunca teria acontecido, Dilma não fez nada até aqui...e o mensalão (o do PT, claro, e só o do PT) é a maior tragédia do universo, nada no mundo pode continuar igual depois do STF julgar o mensalão...Ufa. Esses caras, como o Madureira, a Soninha tão com muita raiva, muita mesmo. Uma coisa digo, deve ser muito mais fácil ganhar a vida nesse ramo "colunista antipetralha coolzinho", é só dar control c em uma coluna dum desses notórios filósofos e colar nas colunas todas nos meses seguintes, variando um ou outro bordão. O bordão que Fiúza acrescentou ao léxico ultracon - acho, não fico lendo esse pessoal - é comparar Haddad ao palhaço Tiririca. Confesso que não tenho nenhuma raiva do Tiririca, disputou uma eleição e foi eleito. Tá cheio de gente que não disputa eleição, nunca dá cara a tapa, mas quer mandar no povo. Também não sou chegado em carteiradas acadêmicas, tipo o cara é professor doutor, pesquisador A do CNPQ com o Lattes.....Não é esse o caso, comparar o semialfabetizado palhaço com o professor doutor e ex ministro da educação. O caso é justamente que essa comparação seja feita e que pra alguém isso signifique algo. Fiúza pega alguns signos óbvios e reconhecidos - mensalão do PT, todo mundo com celular na mão, Tiririca - e conduz suas comparações pelo rumo que crianças de 12 anos comparando seus times de futebol preferidos tomariam. Se - pro Fiúza e seus brothers - quem votou no Tiririca é um tonto, que tal tentar mostrar que quem vota em Haddad é tonto igual? Vai que cola. Sei que depois dessa vou reler algumas colunas do Elio Gaspari, passar um paninho na coleção de livros dele sobre a ditadura aqui na estante.  Não concordo em quase nada com o Gaspari, que é conservador e antipetista ferrenho, mas não é o Fiúza. E isso é um mérito muito grande nesse mundo lotado de intelectuais sofisticadíssimos como o Fiúza. Acho que sou mesmo um vira-lata que não entende nada de intelectual ou de sofisticação. Prefiro o Tiririca ao Fiúza.

PS - Sobre Dilma não ter feito nada nesses dois anos, imagino que pra pessoas de elevado nascimento (como diria um autor de fantasia) não seja muita coisa, ou nada mesmo, peitar os Armínios do sistema financeiro e seu Banco Central pra começar a mudar o histórico de duas décadas de juros altos que manteve reféns FHC e Lula, tirando dinheiro dos trabalhadores pra aumentar a fortuna de banqueiros e outras pessoas bem nascidas. Não, pra intelectuais refinadíssimos mudar isso é nada. Ou é bem pior do que nada, daí a raiva toda.

PS 2 - Dei um google no Fiúza pra saber um pouco mais da figura e o resultado não foi muito animador, acho que vou ter que retirar o intelecutal refinadíssimo, mesmo na ironia. Mais do que o próprio googlado apareceu uma socialite dum reallity desses, Narcisa sobrenome (preguiça de escrever). Não sei se é namorada ou o que, sei que não é bom sinal prum intelectual, mas acontece, tem coisas que não dá pra controlar. Vamos em frente. Além do Johnny, publicou também uma biografia do Bussunda e parece que está fazendo ou fez uma do Gianecchine. Esse pessoal deve ficar duplamente puto com o Bial. Primeiro por apresentar o BBB, deve dar uma baita inveja. Depois por ter feito a biografia chapa branca do Marinho. Isso deve ter doído nesse povo louco pra achar um biografável famoso e poderoso pra chamar de seu (e vender um monte, e aparecer um monte no Jô, no Gentili, no programa de variedades das tardes da Globonews, no Redação Sportv...). Não tá fácil salvar não, reconheço.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sintomas

Falando das soninhas e madureiras da vida, são tantos os exemplos de jovens supostamente esquerdistas que "amadurecem" - ou seja, viram reaças de fazer inveja ao Malafaia, que já deixei alertados algumas pessoas próximas que se, depois dos 40 (que estão chegando), eu começar a mostrar alguns dos seguintes sintomas, favor mirar e atirar bem na cabeça que o corpo já não me pertence.  É sério.

1) Começar alguma frase com: até que nisso a Lúcia Hippolito tem razão. Variações com Merval, Jabor, Leitão, Cantanhêde....também devem ser finalizadas rapidamente.
2) Dizer sobre qualquer coisa envolvendo manifestações de jovens: são tudo baderneiros.
3) Falar a palavra empreendedor a sério.
4) Começar a usar no meio de frases em português - com cara afetada - termos como case, bullet point, budget, briefing, turn over, hands on, hobby box, conference call, sponsor, stakeholders, brainstorm, work station...e outros inglesismos que tentam afastar pobre da conversa e simular algum tipo de erudição - criando uma lingua feia em português e sem sentido em inglês.
5) Continuar ouvindo o U2 e, detalhe importante, concordar com o Bono em alguma coisa.
6) Ameaçar votar em alguém do PSDB.
7) Dizer que o CQC é ótimo e eles não perdoam ninguém.
8) Protestar contra algum ato do MST, tipo ahh mas ali não deviam ter invadido, ou coisa assim.
9) Iniciar qualquer argumentação com "eu pago meus impostos".
10) Ameaçar votar em alguém do PSDB.
11) Achar que a Folha tem pluralidade de opiniões.
12) Acreditar que o/a ombusdman da Folha quer realmente arrumar alguma coisa importante lá dentro.
13) Dizer que a política de cotas vai acabar com o mérito ou vai criar o racismo no Brasil.
14) Achar o Eike Batista um gênio;
15) Achar o Luciano Huck um cara inteligente.
16) Acreditar que o Ronaldo quer algo além de ganhar dinheiro em qualquer coisa que faça.
17) Carregar um exemplar de Você S/A.
18) Citar um pensamento fantástico do Shinyashiki.
19) Ameaçar votar em alguém do PSDB.
20) Chamar o Magnoli de pensador.
21) Acreditar que juro alto e corte dos gastos públicos é austeridade.
22) Assistir o Jornal Nacional e não cair na risada diante das caras sérias do casal que apresenta quando vão mostrar alguma denúncia semanal contra o PT.
23) Pedir prum juiz do STF que seja presidente do país. Assim, simples. Concordo com a postura dum juíz num julgamento, logo...ele tá pronto pra ser presidente do Brasil. Fácil.
24) Começar a procurar o biotipo das crianças na escolas pra identificar ali os futuros marginais.
25) Pensar, depois do enésimo incêndio numa favela de SP, "puxa, que pessoal descuidado".
26) Acreditar mesmo que o fim da distribuição de sacolinhas de plástico no supermercado resolve alguma coisa no meio ambiente - enquanto dá uns trocados pro menino do Pão de Açucar botar tudo no bagageiro duma mega SUV (um dos três carros da família) que você usa até pra ir na padaria que fica meio quarteirão da sua casa - e joga uma tonelada de poluição no céu da cidade.
27) Apagar a luz por uma hora na tal hora do planeta e ir dormir sossegado, com a consciência limpa, "fiz minha parte".
28) Falar bem alto pra todo mundo ouvir na frente dum pedinte que não dá esmola pois isso incentiva a vadiagem, e já contribui com uma ong....
29) Contribuir com ONGs .
30) Pedir o Bernardinho do volei pra presidente (mesmo raciocínio do item 23, ganhou uma medalha na olimpíada, logo...)
31) Colocar um adesivo "não reeleja ninguém" no seu blog e se achar uma pessoa muito politizada.
32) Xingar o Chico de tudo quanto é nome porque ele ganhou o Jabuti, achando que é o maior agitador cultural, assinar um manisfesto online pra ele devolver o prêmio, sem nem saber quem é o Edney Silvestre (que ficou em 2°) e só ter lido na vida Pai rico pai pobre, O monge e o executivo ou Mulheres são de algum planeta e homens são de outro (ou algo parecido) e ter achado que os autores destes livros foram injustamente ignorados pelo Nobel (que deve ter sido dado pra algum petralha).
33) Ameaçar votar em alguém do PSDB.
34) Achar natural um show em homenagem ao Brasil e apresentado pelo Luciano Huck, com Luan Santana como atração principal, realizado em Angola, país de língua portuguesa, se chamar Brazilian Day.
35) Achar natural qualquer coisa apresentada pelo Luciano Huck, com Luan Santana, sem Luan Santana, Ivete Sangalo, Claudia Leite....os de sempre.
36) Pedir o Bernardinho do volei pra técnico da seleção brasileira de futebol.
37) Levar voleibol a sério.
38) Levantar a mão direita aberta pra cima com a palma da mão virada pra frente e, com o maior entusiasmo, pedir "give me five".
39) Escrever algo e colocar kkkkkk, huauhuauhuau, rsrsrsrs depois (esse ítem tem peso dobrado e deveria ter sido o item 1).
40) Ler editoriais da Folha, Estadão e O Globo.
41) Ler qualquer parte dum jornal do Grupo RBS. Mesmo os classificados.
42) Assistir o Jornal das 10 na Globonews ao invés do JN e achar que é muito mais aprofundado.
43) Tomar um gole de vinho, fazer aquela cara de sommelier e começar a discorrer sobre as notas cítricas presentes na bebida, com tons de especiarias, sabor aveludado e uma presença marcante de alguma coisa que sabe-se lá de onde tira..... E depois comer algum troço e elogiar a harmonização com a bebida.
44) Prestigiar um desses famosos - ou qualquer um - "atuando" como DJ.
45) Explicar qualquer coisa - dum novo sistema operacional de computador ao funcionamento da sociedade de castas na Índia - com alguma citação do Steve Jobs

(continua)

PS -  Se eu apresentar alguns destes sintomas. Plural. Mais de um. Viu moça, você mesmo, não vai aproveitar pra atirar na minha cabeça só porque eu assobiei Sunday bloody sunday.