Não, não é autoajuda pro elenco do The Walking Dead. Nem sei bem como qualquer coisa funciona, mas como todo mundo tenho meus palpites, incluindo aí sobre como nascem os zumbis - além das mordidas infeccionadas. Vamos lá: um candidato manjado, desses que disputam toda eleição desde o nascimento da democracia grega, vinha duma derrota no segundo turno pra presidente, tá agora com mais de 50% de rejeição do eleitorado de São Paulo. Muita coisa errada o cara fez, certo? Se botar nessa conta o apoio acrítico e entusiasmado de quase todos os que se acham formadores de opinião, põe coisa errada nisso pra alimentar tanta antipatia, mesmo com uma exposição, vamos dizer, amigável (dentro do possível pra figura, que não é muito simpática) nos meios de comunicação. Por mais medíocres que sejam, os analistas da grande imprensa, esses mesmos que ficaram na moita até aqui esperando o resultado da campanha suja do candidato, agora apontam, cheios da razão e da autoridade, com ar de eu já sabia, que a adesão do tal candidato às coisas da extrema direita não pegou bem num eleitorado que, mesmo conservador na maior parte, não quer ficar escutando baboseiras preconceituosas ou deixar religião conduzir o debate o tempo todo numa campanha duma cidade que está na merda.
Veja bem, não quer dizer que esse eleitor não ache um erro fazer um material que trate de homossexualismo pra ser distribuido nas escolas, pras "nossas crianças", ou que ele seja a favor do aborto, da união civil de pessoas do mesmo sexo....Pode até concordar com os religiosos que vivem martelando contra essas coisas, mas ele não acha esse tipo de coisa o tema principal duma eleição quando ele não consegue se locomover dentro da cidade, seja de ônibus ou de carro, quando ele se sente ameçado dia e noite por bandidos e pela polícia, quando não consegue atendimento na rede pública de saúde. E começa a ficar meio de saco cheio dum cara que só aparece falando mensalão, mensalão. Tirando meio dúzia de cabeças privilegiadas, como o próprio candidato, a pequena sônia (ela não era adversária?) e um cara da veja, é meio que consenso que as escolhas de pauta e a postura do cara não foram felizes. Bom, com tanta rejeição, na verdade as escolhas foram uma porcaria mesmo - e, pra piorar mais a coisa toda, repetiram as mesmas escolhas da derrota anterior pra presidente. No mundo real, dos vivos, o papo furado não cola - ou pelo menos não cola tanto quanto seria necessário pruma eleição majoritária. É uma pauta de candidato a vereador ou deputado.
O candidato do PSDB a prefeitura/governo/presidência de alguma coisa.
Já na campanha de 2010 o cérebro do candidato mostrava todos os sinais da prolongada ausência de oxigênio e o tecido morto começava a tomar o lugar do tecido vivo. O que se dizia dele, economista conceituado, administrador experiente, desenvolvimentista, não batia com o que ele falava ou fazia na prefeitura ou no governo do estado. O que se viu foi polícia dando porrada em todo mundo, principalmente em pobre e estudante (estudante pobre então, sifu). E só. A única argumentação exposta pelo cara da "biografia" era "trololó petista" como explicação ou resposta pra qualquer sinuca de bico. O sintoma mais claro de que a vida como conhecemos já se ausentava ali era a sindrome de biruta de aeroporto. O cara vinha caminhando pra lá e pra cá conforme o vento, sem idéias novas, sem programa, procurando um cérebro pra devorar, num típico zumbi dos filmes do Romero. E procurando cérebro pra devorar não é apenas figura de linguagem, mas o modo de conduta dos ultracons que cercam o zumbi. Sempre raivosos, querendo sangue, olhos atentos procurando sinal de vida inteligente pra atacar. Talvez tentando, com isso, dar vida aos próprios registros de atividade cerebral já apenas no traço do eletro.
É o Serra ou Zé? Defende o que aí está na cidade mas se ausenta sempre que a coisa fica feia. Fala mensalão, mensalão, mensalão, mas ataca quem tocar no assunto mensalão do seu partido. Vai na parada gay mas se deixa apoiar por renomados homofóbicos como o Silas Malafaia. Xinga o que chama de kit gay do Haddad embora tenha lançado um quase igual. Nunca mostrou ser particularmente religioso e agora abraça com fervor tudo quanto é padre e pastor. Critíca o aborto e, como é típico da elite, sua mulher fez. Se coloca sempre no papel de vítima de baixarias enquanto sustenta sites pra difamar adversários (incluindo aí mentiras sobre cancelamento de Enem ou propostas de aumento de tarifas num site falso simulando ser da campanha da Haddad). Até a FOX News, A FOX NEWS, cobra do candidato republicano quando a coisa é muito descarada. Aqui não. Silêncio, grilos ao fundo. É exatamente esse tipo de véu que protege Serra (e o PSDB) que ajuda a entender (daí o titulo pretencioso do post) os motivos deste candidato continuar "prestigiado", dos tucanos não se renovarem - bom lembrar que havia um processo de prévias tucanas pra escolha do candidato a prefeito que foi destruído por Serra com aplausos gerais da imprensa. E assim o morto-vivo continua mandando.
O fraquíssimo Fernando Rodrigues, da Folha, deu a dica de como se processa a armadilha ideológica que sustenta os mortos-vivos. Em sua coluna, já com a vaca do seu candidato atolada até o chifre no brejo, reclama da baixaria. Tudo bem, tem razão mesmo. Mas reclama da baixaria dos dois candidatos, e põe o Malafaia no meio, como se fosse coisa dos dois - quando um respondia aos ataques do Malafaia. Além de desonesto é, como aliás tem sido o caminho da Folha, apostar na estupidez geral. Se um candidato tem mais de 50% de rejeição e tá quase todo mundo mostrando que as opções deste canditado pela baixaria não produziram resultado (incluindo aí o Fernando Henrique Cardoso - que também convenientemente espera bastante pra dar esse típo de diagnóstico) não dá prum analista colocar essa baixaria na conta dos demais candidatos. É falsear os fatos, dar salvo conduto pra campanhas feitas só de ataques tolos e propostas zero.
A ombudsman da Folha pede que os jornalistas não se pautem pelos marqueteiros - e ficar tratando de bobagens o tempo todo, deixando de lado as questões graves da cidade. Tarde demais dona. Os colunistas da Folha (não só, mas são os que ainda aparecem no meu computador) já não sabem falar nada diferente do padrão marqueteiro. Não é apenas complô, o tal PIG, mas é parte da formação dos jornalistas e de outros profissionais confundir propagando com fatos, como torcedor que se recusa a ver os defeitos do seu time e, em contrapartida, aceitar na boa tudo que o favorece, incluindo penalti roubado. Propaganda e jornalismo têm muita coisa em comum, partilham técnicas e ferramentas de comunicação e partilham também cada vez mais o mesmo espaço e a necessidade de agradar os donos do dinheiro que ainda mantém os jornais na ativa. Isto, claro, não é de hoje e vem atuando na formação e seleção dos "melhores" currículos pelas chefias de redação, estes que ganham espaço e importância nas coberturas de imprensa com análises sem profundidade, rasteiras mesmo, com preguiça de cultura (essa tal erudição que pra muitos só toma tempo do que importa mesmo, dinheiro) mas que contam pontos preciosos com os "de cima". Não dona Singer, mantido esse padrão de cobertura e nível de jornalismo não dá mais pra separar jornalista de marqueteiro. A finalidade é a mesma, vender algo.
Uma imprensa com um pouquinho só de dignidade, pra não dizer inteligência e algum, nem precisa muito não, espírito crítico, já teria decepado a cabeça do morto-vivo muito antes pela sua absoluta falta de sucesso em se comunicar com o mundo dos vivos. E isto não seria nenhum passo à esquerda, mas o contrário, é liberar um pouco de oxigênio pros pássaros bicudos respirarem e não transformar tudo em zumbi como tão fazendo. Não tenho nenhum interesse em dar receitas pra direita (até por que ela tá bem viva, apenas fora do poder formal no planalto, mas longe de não ser hegemônica), mas com essa cobertura engana-trouxa montada pra classe média mais imbecil (ou assinante/sócio/torcedor) que a imprensa se especializou (ou fez um MBA, na linguagem da moda) - vide mensalão - tá duro de ver alguém com aparência saudável nos lados do PSDB. E olhando o nome minas-leblon que se propõe pro lugar até aqui cativo do zumbi, tá mais pra candidato de reallity do tipo rehab do que político sério. Vão ter que criar um novo kit zumbi pra sustentar mais um candidato que, por si só, não para em pé (diferente dos postes).
Resumindo, em números, desses que afetam a vida dos vivos (como emprego, aumento do salário, moradia) o Brasil tá melhor do que estava antes de Lula. Isso é um dado concreto (IBGE, Dieese), goste-se ou não. Pode ser com algum mérito do FHC, pouco mérito do FHC (tô nessa), mas ao invés de pensar em como melhorar ainda mais esses números e, em consequência, a vida dos vivos, a joint venture entre partidos de oposição e imprensa fica exclusivamente (e exaustivamente) dedicada a promover e sustentar zumbis, combatendo exatamente os fatores (como queda dos juros, fortalecimento das empresas estatais e programas de redução de pobreza) que ajudaram a construir esses números melhores. É a política feita por e para zumbis, que descaracteriza e ataca a vida - e a tragédia de Pinheirinho tá aí pra mostrar como funciona. São estes zumbis que diante da complexidade duma disputa política com um governo muito bem avaliado, só sabem berrar petralhas, petralhas (e agora mensalão, mensalão). Acho que o cérebro já foi comido faz tempo.
PS - Acabei de ler um texto muito bom do Paulo Moreira Leite - outro dos raros que mostra-se mais interessado em compreender do que escolher um lado e ficar martelando pensamentos prontos - que fala dessas generalizações cheias de interesse da imprensa quando seu candidato perde. Ele pega as conclusões apressadas dos analistas a partir dos números altos de votos brancos e nulos em SP. Diz a ladainha destes analistas que isso mostra uma falha da nossa democracia, problemas de representatividade, questionam a apatia do eleitor, pedem mudanças....só porque perderam. O Paulo Moreira Leite mostra que ninguém no comité do Haddad tá reclamando da democracia. O problema é que o Serra não empolgou, não conseguiu os votos que precisava. A apatia foi dos eleitores do Serra que não queriam votar no PT mas não aguentam mais o zumbi. O problema é do Serra, do PSDB e de seus apoiadores ultracons na imprensa, não da democracia.
PS 2 - Manchete do Uol no day after da derrota do Serra pro Haddad: Em discurso, Serra mostra disposição, analisa Josias. E vamos nós. Pega lá o kit zumbi Josias.
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