quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Bebo sim, mas não preciso ser um cretino

Dizem meus amigos da publicidade que o Brasil é "primeiro mundo" no ramo. Um montão de Leão de Ouro em Cannes e outros prêmios tão aí de prova. Começa que primeiro mundo é um termo tolo, classemedista afetado, que geralmente é dito por quem não conhece mundo algum, mesmo que viaje um montão. Descontando a afetação, lembro sim de muitas propagandas boas, criativas e divertidas feitas aqui. Porém, meu contato com televisão nesses tempos limita-se aos jogos de futebol e corridas de F1. Confesso que não sei bem a quantas anda a propaganda feita atualmente no Brasil e, num esforço, não consigo lembrar de nada particularmente bom feito recentemente. Como não fico vendo TV, posso ter passado batido.  Mas sei muito bem, pelo conteúdo que vejo, que sou alvo preferencial de um tipo de anúncio que, ano a ano, consegue bater o próprio recorde de estupidez. Sim, os infames comerciais de cerveja.

Sempre que vejo uma das novas peças, fico imaginando uma reunião da agência de publicidade - a culpada pelo que acabou de passar na tela. Uma agência dessas fodonas, dona de uma das megacontas do setor de bebidas, como a conta da (In)Ambev e suas marcas todas: Antarctica, Brahma, Skol. Ou a conta da Schincariol, agora japonesa, da Kaiser, Sol.... Cada conta dessas deve injetar um caminhão de grana nas agências, puta responsabilidade pros publicitários, necessidade de montar uma boa equipe. Então penso nos caras da criação reunidos, depois das várias etapas que uma idéia percorre até ficar pronta pra primeira exposição, os clientes na frente da tela grande, luz apagada, aperta o play. Início das propostas pra aprovação e....infalível. Tão lá:

1) as gostosonas de biquíni.
2) a molecada - todo mundo tem 20 anos - festando, sempre, na praia, churrasco, bar, balada...
3) a molecada festando sempre, falando de mulher gostosa e se comportando como quem tem 13 anos.
4) e, enfim, a cerveja da marca, pra mostrar que a molecada que fica  festando sempre pode contar com ela, pro que der e vier.

E as centenas de variações do mesmo tema. 

Será que não vai ter uma bendita agência que vai dar um chega nessas baboseiras? Ou um desses megaexecutivões, do lado dos clientes, pra dizer o óbvio: escuta, com a grana toda não dava pra fazer uma proposta melhorzinha não? Gosto de pensar que quem bebe minha cerveja não é um zumbi completamente estúpido. Não sei quem nasceu primeiro, a proposta cretina ou o cliente querendo sempre algo cretino na proposta, mas tenho certeza que uma agência que rompesse esse círculo idiotizante, com uma proposta nova, mudaria o rumo das coisas, faria a tal da diferença. Não é essa a meta dum bom publicitário? Fazer diferente?

No exemplo abaixo, ao invés de bater no peito e gritar alto como somos cretinos e adoramos ser dessa forma, a agência brinca, de forma simpática, com a imagem abobalhada dos bebedores de cerveja.


A princípio, nem parece tão diferente. Tem festa, mulheres e bebedores de cerveja abobalhados (faltou os biquínis). Mas é, no fundo, completamente diferente do que vemos aqui. Tem um detalhe chamado inteligência.

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