Dando uma passada de olho na Folha de domingo, encontrei um artigo do João Paulo Charleaux muito claro sobre as diferenças de tratamento na mídia brasileira das catástrofes lá fora - pra não dizer puxasaquismo tosco e preguiçoso (isso é meu, não do Charleaux). Ele mostra que o furação Sandy matou quase setenta pessoas no Caribe antes de chegar nos EUA - e ninguém falou disso na imprensa daqui. Chegando nos EUA, só deu Sandy nos nossos jornais. Charleaux cita uma antiga piada de redação pra ilustrar a diferença de pesos na cobertura: um americano assustado equivale a uns 40 centro-americanos mortos ou uns 50 corpos africanos e por aí vai.
Lembro que depois dos atentados de 2001 algumas cartas com pó branco assustavam muita gente nos states. Poucas dessas cartas continham realmente o antrax, que podia mesmo provocar a morte de quem tinha contato com a carta. Após a segunda morte (de um total de 5 ou 6) imprensa e políticos já cobravam a quebra da patente do remédio pra tratar do antrax. Justo, sem dúvida. O problema é que enquanto isso milhões morrem todos os anos nos países pobres por doenças como Aids, malária, chagas, dengue, tuberculose.... e o governo norte-americano sempre se opôs duramente contra qualquer tentativa de quebrar patente pra reduzir os custos com o tratamento dessa doenças. Nessa conta, um norte-americano morto por antrax é mais importante que milhares de africanos, latinos e asiáticos mortos por doenças da pobreza. E essa diferença na balança de pesos de vidas não parece escandalizar a imprensa em lugar nenhum. Americano morrer é tragédia. Pobre morrer é da vida, acontece.
Lembro que depois dos atentados de 2001 algumas cartas com pó branco assustavam muita gente nos states. Poucas dessas cartas continham realmente o antrax, que podia mesmo provocar a morte de quem tinha contato com a carta. Após a segunda morte (de um total de 5 ou 6) imprensa e políticos já cobravam a quebra da patente do remédio pra tratar do antrax. Justo, sem dúvida. O problema é que enquanto isso milhões morrem todos os anos nos países pobres por doenças como Aids, malária, chagas, dengue, tuberculose.... e o governo norte-americano sempre se opôs duramente contra qualquer tentativa de quebrar patente pra reduzir os custos com o tratamento dessa doenças. Nessa conta, um norte-americano morto por antrax é mais importante que milhares de africanos, latinos e asiáticos mortos por doenças da pobreza. E essa diferença na balança de pesos de vidas não parece escandalizar a imprensa em lugar nenhum. Americano morrer é tragédia. Pobre morrer é da vida, acontece.
Outra coisa notada pelo colunista é o jornalismo pautado pelo que interessa lá, não aqui - não produzimos aqui conteúdo, apenas replicamos o que nos EUA se entende como prioridade. É o popular jornalismo colonizado, que ainda atende as ordens dos colonizadores. Entre tantos e tantos exemplos dessa postura servil, lembro da cara embasbacada do William Waack entrando num porta aviões norte-americano ancorado no litoral brasileiro. Parecia um criança entrando na Disney, deslumbrado, sem saber direito pra onde olhar. Metido a historiador militar, o apresentador do jornal noturno da Globo deve ter sentido espasmos de emoções com a força das armas ali dentro. Parecia qualquer coisa menos um jornalista brasileiro entrando numa imensa arma de guerra extremamente poderosa (na verdade mais poderosa do que nosso poderio militar inteiro) e enviada pra nossas águas - olha só - logo depois das descobertas de petróleo no pré-sal.
Falando em pesos e medidas, quer o Waack, a Globo, Veja e Folha queiram ou não, quem acompanha publicações internacionais sabe que o peso do Brasil agora é muito maior. Isto pode ser bom, pode ser ruim. Eu mesmo não tenho saco pra essa obsessão com uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, mas é fato que o país vai ficar mais próximo das questões que movem a política nos quatro cantos do planeta. Isso pediria jornalistas dispostos a aprofundar a crise Israel-Irã, o avanço da China, o imbróglio todo Afeganistão-Paquistão-AlQaeda, a tirada do Lugo no Paraguai.... e isto do nosso ponto de vista, não do ponto de vista do Departamento de Estado dos EUA, como tem sido até aqui. Quanto mais rápido o Brasil cresce em importância no cenário global, mais visível fica essa pobreza mental do jornalismo servil. E vai ser duro formar uma geração nova de jornalistas que entenda essa mudança no papel do país. Tá tudo dominado, como diria o filósofo do Bope.
Nenhum comentário:
Postar um comentário