segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A tortura de ler James Patterson

Terminada a tese algum tempo atrás, fui procurar um tipo de leitura que me fazia muita falta: a novela policial. Como tava por fora da coisa, dei um google e descobri alguns autores da moda,  um tal Stieg Larsson e sua trilogia Millenium e um cara chamado  James Patterson com uma porrada de livros. Li os livros do Larsson na boa, gostando de algumas coisas, não gostando de outras, achando o personagem principal (o jornalista) um tremendo bocó, gostando da ciberpunk mas meio de saco cheio dos seus superpoderes, bom passatempo, nada mais, nada menos, com um ponto considerável: o bom clima nórdico pra esse tipo de histórica, com seu frio e perversidade oculta na aparente normalidade duma sociedade com boa distribuição de renda. Esses dias caiu na minha mão um livro do Patterson, O 5° Cavaleiro. Pelo sobrenome achei, a princípio, que fosse da estirpe dos autores de livros de crimes daquele canto da Europa. Errado, é americano, "o autor de suspense número 1 do mundo" diz a capa, devia ter sacado a encrenca e, na verdade, já estava com o pé atrás pela edição do livro, bem ruinzinha, mas li uma coisa meio elogiosa na Folha sobre o Patterson e coisa tal, vamos ver.  Ainda bem que não paguei. Talvez a pior coisa que já tentei ler na vida.


Não consegui chegar até a metade e não gosto de ser injusto, pode ser que seja seu pior livro, pode ser que a segunda metade que não consegui atingir seja excepcional, mas duvido muito. Pela porcaria imensa que vi até aqui é pouco provável. O livro de pouco mais de 200 páginas é dividido em uns 100 capítulos. Média de duas páginas por capítulo. Aliás, olhando bem, parei na página 91, capítulo 65, uma página e meia por capítulo. Se tenho que dar parecer prum texto acadêmico, vejo de cara os métodos de enrolação pra dar volume mínimo, uma página e meia por capítulo é pra charlatão de autoajuda nenhum botar defeito. Só por isso já vale um adeus definitivo, é muita falta do que dizer pra alguém que, supostamente, quer contar algo.

Cada parágrafo é uma exposição de dois ou três clichés, cada frase é um lugar comum, cada personagem é descrito com profundidade de colunista de cultura da grande mídia que "viajou a convite da empresa tal". Deve ser a fase romance policial pra leitores de Crepúsculo. Os diálogos são inacreditáveis, quase todos com uma palavra escrita com letras repetidas, como nããããooo, juraaaaaa, dando o perfeito tom pruma conversa de adolescentes afetadas - pro que seria uma reunião de superprofissionais com mais de trinta anos, incluindo aí uma tenente de homicídios, uma médica legista, uma jornalista e uma advogada, todas super-bem-sucedidas, supercompetentes e todos todos os super possíveis. Cada nããããooo escrito dessa forma e posto num diálogo dói na cabeça de quem lê (e já passou dos dez anos de idade). No mais, crimes rotineiros (pra livros de suspense), trama banal e - o verdadeiro crime do livro - todos os personagens são insuportavelmente chatos. Sabe aquele conhecido, profissional muito bem-sucedido no mercado financeiro, advogado ou coisa do tipo, que senta na tua mesa no bar e só fala banalidades? Pois é, todos os personagens do livro são variações dessa pessoa chata. Crimes e trama podem, eventualmente, melhorar na metade final - até porque piorar vai ser difícil. Os personagens certamente não vão ficar menos chatos, e isso mata o livro.

Não gosto de parar um livro no meio, vou respirar fundo, quem sabe consigo vencer a outra metade, mas deu de cair na mão As Benevolentes do Jonathan Littell e, putz, não vai rolar voltar pra porcaria do Patterson. Crime por crime vou ficar com os da SS na Segunda Guerra. Sei bem que são mundos e pretensões diferentes, que o Patterson nunca vai querer escrever coisa séria, ganhar os prêmios que o Littell ganhou, tá feliz da vida vendendo um monte, mas cresci lendo Agatha Christie, Conan Doyle, John Le Carré...e, convenhamos, dá pra fazer coisa muito boa nesse mundo do suspense popular. Patterson não dá.

Ufa!

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