quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Escolhas

Não costumo assistir os canais abertos. Não é frescura, mas acho tudo muito bobo mesmo. Sem cabo, a minha TV fica restrita aos filmes e séries baixados da internet ou na netflix (e um pouco de videogame). Mesmo os jogos de futebol, tento ver na TV mas com som do rádio ou da internet, com paciência zero com os narradores e comentaristas da globo/band - o que torna incompreensível o exílio do Milton Leite no Sportv, enquanto os malas do Luis Roberto, Galvão e Cleber Machado (esse menos mala até, mas a parceria com o Caio Ribeiro e Gaciba e seus clichés todos derruba a transmissão) assombram o futebol da globo. Duro de entender mesmo é essa opção da TV pela afetação extrema. Assisti o jogo Fluminense  x Grêmio ontem com o insípido Luis Roberto narrando e, talvez no clima do carnaval recém finado, o onipresente camarote de celebridades, comandado pelo Alex Cala a Boca Escobar. Não entendo mesmo essa opção pelas celebridades vazias (tiro dessa lista, obviamente, o mítico Chico Diaz, que estava no camarote, camisa do fluminense, meio deslocado, até pelo chocolate aplicado pelo Grêmio), pra ilustrar "a emoção do torcedor apaixonado". Não têm milhares de torcedores apaixonados de verdade no estádio? Pra que ficar mostrando o fulano da novela das 8? Não pode ser uma pessoa comum a ter emoções verdadeiras. Não, tem que ser um ator de segunda linha da Globo (fora o Chico Diaz) - que não consegue passar emoção nem no seu papel na malhação, que dirá vendo futebol - pra mostrar pra quem vê futebol pela TV o que é torcer de verdade. Precisava mesmo do Mocotó ou sei lá quem pra me ensinar a torcer.

Um exemplo dessa afetação tornada obrigatória é o próprio Escobar, um comentarista até divertido no Sportv, virado, agora na Globo, num bobão supremo, na linha quanto mais engraçadinho sem cérebro melhor que contamina o esporte no canal. Dunga cometeu muitos erros na seleção, mandar o Escobar calar a boca não foi um deles. Além da afetação, uma sonolência mental domina as informações e comentários das transmissões globais. O repórter de campo (essa função completamente inútil)  Eric Faria (o que sai comemorando gols de times cariocas, faltando só entrar na dancinha) "revelou" que o grande "intelectual" Carlos Alberto Parreira chamava o meia Zé Roberto de "facilitador", lá na distante copa de 2006 (a mesma que o técnico intelectual permitiu que um ataque com dois jogadores pesando 120 kg cada afundasse o time). O termo facilitador é já velho conhecido do mercado de charlatões que povoam as palestras motivacionais, Luis Roberto, claro, adorou a novidade e passou a referir-se ao pobre Zé Roberto (o melhor em campo, junto com Barcos) como facilitador. É a clara escolha da Globo, tendo Milton Leite, Maurício Noriega e Paulo Vasconcellos escondidos no time do Sportv, pela estupidez afetada na sua transmissão. É futebol pra quem vota no Big Brother, que irrita quem só quer ver um jogo de futebol. A escolha foi esta e, claro, não fica restrita ao futebol.

Acordo no dia seguinte, faço o que nunca costumo fazer, ligo a TV. Passa um programa chamado Bem Estar (ou algo assim) na Globo, a matéria é sobre a importância de comer feijão, com pessoas de jaleco dizendo pras pessoas de casa (eu incluso) o que elas devem comer, como, quanto, de que forma, com que cor, com que acompanhamentos... - numa espécie de religião disfarçada, com pastores de jaleco te iluminando o caminho da sabedoria do prato de feijão. Pra dar o clima da matéria, duas repórteres mostravam, em restaurantes do Rio e São Paulo, o hábito "brasileiro" (sempre é o brasileiro, esse ser único materializado) de comer feijão todo dia. Absolutamente tudo é falado da maneira mais afetada possível, a repórter de São Paulo então, parecia que estava num palco de um musical da Broadway, com gestos, caras e bocas. Nada é dito com simplicidade e informação, tudo tem que ser teatral, superlativo, importantíssimo, fatal...Prestem atenção em mim, por favor, não olhem pro outro lado - parece implorar a retórica hiperativa.

Isso tudo deve ser a norma hoje na TV, a julgar pela minha vontade de vomitar, em contraste com a tranquilidade que vejo todo mundo acompanhando na boa - e me olhando com estranheza, talvez pela cor verde da minha cara pré-vomito no momento, e clara impaciência, comigo, que só quero desligar a TV.

PS - Soube dia desses que a globo colocou uma tal de Luiza Possi, uma cantora pop dessas, pra comentar  (!) a transmissão de futebol. Que fase, diria Milton Leite. Assim até o Neto da band vira um João Saldanha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário